Conversamos com a doutora Bacy Fleitlich-Bilyk, Psiquiatra da infância e adolescência, sobre essa realidade para que, no seu trabalho pela Primeira Infância (período da gestação aos seis anos), você possa orientar famílias nessa situação.
FMCSV – Doutora Bacy, como contar para uma criança, tão pequena, que o pai ou a mãe dela foi embora?
Doutora Bacy – É essencial que a criança elabore esse acontecimento com base na verdade, mas dentro do limite daquilo que ela pode compreender. Se o pai ou mãe foi embora, sem pretensão de retornar, é importante ela saber que ele ou ela viajou para um lugar distante, de destino ainda desconhecido. Não é saudável para a criança ter contato com detalhes, do tipo: que o pai trocou a mãe por outra, a mãe foi embora e traiu o pai. O adulto que ficou tem de saber separar a raiva que sente do que é, de fato, informação adequada para a faixa etária.
FMCSV – Com o tempo, conforme vai crescendo, provavelmente a criança comece a fazer novas perguntas…
Doutora Bacy – Sim. Se a criança diz “meu pai/mãe nunca liga pra mim” o adulto deve responder “não, filho, mas talvez ele/ela pense em você. Você quer tentar falar com ele/ela?”, quando isso é possível, é claro. O errado são respostas como “seu pai/mãe é um/a bandido/a, tem outra família, não liga pra nós…”.
FMCSV – Existem pais e mães que sentem muita angústia quando estão sozinhos nessa tarefa de educar e cuidar, acreditando que precisam suprir a ausência do/a parceiro/a de alguma forma. Isso é possível?
Doutora Bacy – Não é possível, por exemplo, a mãe suprir a ausência do pai, mas, no dia a dia, se a ela está presente, oferecendo afeto, atenção e educação, a criança poderá ter um crescimento saudável, mesmo sem a presença do pai.
FMCSV – Como agir com aquela criança que, diante da perda do pai/mãe, fica agressiva, sente muita raiva?
Doutora Bacy – A raiva pode ser lidada com continência, ouvindo, observando, sem necessariamente fazer algo, ter alguma reação. Em alguns casos, talvez seja necessário procurar ajuda de um especialista. É importante ressaltar que, mesmo diante de uma situação dessas, é importante impor limites. Deixar a criança fazer o que quiser, por pena, não trará bons resultados. Ao impor limites, o pai/mãe mostra para a criança que é forte, que aguenta o “tranco”, o que gera mais confiança no filho.
* Bacy Fleitlich-Bilyk é PhD em Psiquiatra da Infância e Adolescência, Supervisora Técnica e Pesquisadora de Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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