Imagina a satisfação de ir contra todas as tendências e vencer? Aconteceu com a jovem Elaine Luzia dos Santos. Moradora de Cascavel, no Paraná, ela é a primeira tetraplégica a conseguir se graduar no curso de Medicina no Brasil.
Foto: Reprodução
Segundo a Unioeste, a paranaense de 33 anos, perdeu todos os movimentos do pescoço para baixo e também a fala após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) em 2014.
Mas isso não a impediu de realizar o maior sonho da vida dela: se formar em medicina.
A comunicação
Elaine se comunica através da soletração, usando o olhar e uma tabela com letras divididas em cinco grupos, de um a cinco, para agilizar a formação de palavras, explica a pedagoga Clarice Palavissini.
A professora foi indicada pela universidade para auxiliar a médica durante a graduação. “A primeira linha é referente às 5 primeiras letras do alfabeto. […] Quando é a letra que ela quer identificar ela pisca”, explica a professora.
Perguntas com respostas sim e não, são respondidas com olhar para cima ou para baixo, respectivamente.
Superação
De acordo com Clarisse, a estudante foi dedicada do início ao fim da graduação, sendo um exemplo para os colegas. “Dedicada, não gostava de faltar, e se esforçava para estar sempre. Um exemplo para os outros acadêmicos”, destaca ela.
Para Rúbia Betânia Boaretto, professora da Unioeste, Elaine é o exemplo claro de que é possível trabalhar com a inclusão em todas as esferas sociais.
“Isso se chama inclusão e é muito bonito porque foi completa. […] A Elaine é inserida em um contexto de ensino com muita naturalidade, como dever ser. […] nada foi feito de modo a facilitar a vida dela, nós inserimos ela, mas nem por isso tornamos as coisas mais fáceis para ela”, argumenta ela.
Elaine com o jaleco da universidade – Foto: reprodução
Agora, Elaine quer se especializar em Radiologia. Os professores da aluna afirmam que ela consegue traduzir muito bem o que as imagens dos exames representam.
O sonho de ser médica
Amigos e familiares contam que Elaine sempre foi muito determinada. Em 2009, ela se formou em farmácia na Unioeste. Chegou a atuar na área por 9 meses. Mas, um ano depois de formada, decidiu que queria estudar medicina.
A mãe de Elaine, Adalva Alves dos Santos, relembra o momento. Ela conta que a filha foi aprovada em três instituições de ensino públicas após prestar o vestibular, mas Elaine decidiu continuar estudando na Unioeste para ficar perto da família.
O AVC
Até o terceiro ano do curso, Elaine tinha uma vida normal. Estudava muito, tinha aula em período integral e nunca faltava, conforme relataram os professores. Em 2014, aos 26 anos, ela sofreu o AVC. A cuidadora de Elaine, Isabella, relatou sobre como foi o dia do acidente.
“Ela estava em casa […] era cerca de uma hora da madrugada. Ela foi no banheiro nausear e caiu, perdeu a força e ficou até as três da tarde aguardando por socorro médico. […] aí essa enfermeira ouviu o sussurro de socorro e bateu na porta… entrar com o socorro”, conta ela.
Ela já estava na faculdade quando teve o AVC e ficou tetraplégica – Foto: reprodução
No caso de Elaine, o AVC foi na ponte do tronco encefálico, que fica acima da medula espinhal e que regula a respiração, pressão arterial e frequência cardíaca, interrompendo o fornecimento de sangue para algumas áreas. De acordo com a equipe médica que atendeu ela, esse tipo de AVC é raro e na maioria dos casos é fatal.
Elaine ficou 30 dias internada em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Ao sair, foi identificada a chamada síndrome do encarceramento, que é quando o paciente fica lúcido, mas perde todos os movimentos corporais e a fala.
Inspiração
O exemplo de superação de Elaine já inspira outras pessoas. A cuidadora dela, Isabela Alves, diz que quer cursar medicina também. “Aí eu olho pra ela e me pergunto: por que não tentar? Ela tem todos os motivos para desistir e eu vou deixar passar a oportunidade?” comenta a jovem.
Para as dificuldades da vida, Elaine tem uma resposta pronta. Soletrando letra a letra ela descreve o que é a vida. “Buscar sempre ser o seu melhor”.
O também médico e irmão de Elaine, fala com orgulho dela. Ele diz ser alegria imensa poder conviver com o exemplo de superação da irmã.
“É difícil descrever, ela é uma pessoa fora de série. […] Com certeza é uma pessoa muito iluminada que a gente tem a honra de conviver”, concluiu.