Autor: Emerson Barbosa
Na década de 90, o Acre esteve a refém dos mandos e desmandos de um ditador. Hoje aos 70 anos e bastante debilitado por conta dos problemas acerca da saúde, alguns deles relacionados com a diabetes, Hildebrando Pascoal ainda coleciona no imaginário local, a fama que adquiriu ao longo da vida e principalmente como comandante da Polícia Militar do Acre, a de um homem frio, cruel e calculista quando se tratava de eliminar seus inimigos.
Em 2009, o também ex-deputado federal foi levado ao banco dos réus para que fosse julgado em vista do assassinato de Agilson Firmino, o “Baiano”, morto em setembro de 1996.
O homem teve o corpo serrado vivo com o uso de um motosserra a mando de Pascoal, que acreditava que “Firmino” estaria envolvido na morte do irmão dele, Itamar Pascoal, morto por “José Hugo Alves Júnior” com um tiro no ouvido.
Os detalhes do julgamento que aconteceu de forma inédita em Brasília, tal era o grau de periculosidade de Hildebrando, foram relatados na entrevista do policial federal Décio Pereira ao podcast, “Fala Glauber”. “Eles fariam o julgamento dele lá no Acre, só que ele (Hildebrando) tinha tanto poder que se o julgamento fosse no Acre ele teria sido absolvido. Ninguém iria condená-lo. O júri não teria coragem. Eles fizeram um “desaforamento” e trouxeram o caso para a justiça federal em Brasília. Foi a primeira vez que houve um júri federal. Por isso, entrou para a história”, contou.
Dos vários momentos do júri, segundo o policial federal, um o marcou, o testemunho da acusação. “Ele tava (sic) dando o depoimento. O procurador da república era o “Pedro Taques”, (José Pedro Gonçalves Taques, jurista, político, ex-governador e ex-senador do estado do Mato Grosso). Esse Pedro Taques era o procurador da república do caso, um homem bem baixinho, mas danado. Cara, ele destoava muito. “Engolia” os advogados do coronel Hildebrando, “engolia” nos debates. Mermão (sic) ele engolia os caras. Se bem que não era muito fácil defender o Hildebrando Pascoal, serrou um cara vivo. Esse camarada que delatou todo o esquema era do bando também. Durante o depoimento ele começou a falar da situação. Contou como mataram um garoto de 14 anos – (Wilde Firmino que na época tinha na verdade 13 anos), filho do “Baiano”, que o Hildebrando serrou. Eles pegaram o filho do cara e torturaram o “moleque” para falar onde o pai estava. Ele contava essa história e no meio começou a chorar. O Pedro Taque que era o procurador disse: “Não precisa vir com esse teatrinho para cima de mim que eu sei que você não é boa bisca. Pode parar com essa po*** de ficar chorando e segue no depoimento. Ele deu uma dura na testemunha de acusação”, contou.
O depoente continuou falando. “O cara tava (sic) aqui (aponta o entrevistado) falando de frente para o juiz e o Hildebrando assim, a uns dois metros, e eu em pé atrás do Hildebrando. Ele pegou e falou: não excelência, eu fiquei emocionado porque eu lembrei dessa história do garoto de “14 anos” que foi assassinado de forma brutal. Eu hoje tenho um filho com essa idade. Eu me emocionei porque eu sei que essas pessoas…(entrevistado faz gestos). Bicho, nesse momento ele olhou para o Hildebrando e continuou. Que essas pessoas são capazes de fazer isso com o meu filho. Na hora que ele olhou para o Hildebrando, o Hildebrando que ficava o tempo todo de cabeça baixa e com os braços cruzados fez assim (gestos com o olhar) levanta a cabeça e deu uma encarada. Com aquela cara ele falou (força de expressão do entrevistado) “eu vou fazer”. Só que na mesma hora o filho do Hildebrando tava (sic) assistindo a audiência na primeira cadeira atras do cara que estava depondo. Ele falou assim: “eu sei que essas pessoas podem fazer isso com o meu filho, só que eles não vão fazer, sabe por que? Ele olhou para o moleque (filho do Hildebrando) e disse, porque eles também têm filhos. Ameaçou na frente de juiz, promotor, a po** toda. O réu só olhou para carinha dele, calado tava (sic) calado ficou”.
Hildebrando Pascoal, 70 anos, foi um dos personagens mais emblemáticos, no final da década de 90, no Acre. O ex-militar e político chefiou um grupo de extermínio que tocou o terror no estado. Uma das mortes apontadas como a mando de Pascoal está a do mecânico Agilson Firmino, (Baiano), o qual teve o corpo serrado vivo com o uso de motosserra.
Também é atribuída ao grupo de Hildebrando, a morte de Wilde Firmino, filho de Baiano. O adolescente que era autista foi levado de dentro de casa por policiais militares até um local ermo onde foi torturado vivo até a sua morte.
Existem relatos que os torturadores jogavam ácido no garoto e apagavam cigarros em seu corpo. Hildebrando Pascoal, apesar de cumprir hoje prisão domiciliar foi condenado a mais de 100 anos pelos crimes de tentativa de homicídio, tráfico de drogas e corrupção eleitoral. O irmão dele, Pedro Pascoal Pinheiro Neto também foi condenado há 20 de prisão em regime fechado pela morte Wilde Firmino de Oliveira.
Fora os 100 anos de condenação, a Justiça espera julgar Hildebrando também pela morte de José Hugo Alves Júnior, torturado com requintes de crueldade em 1997 na Bahia após ter sido sequestrado de uma fazenda em Parnaguá no Piauí.
José Hugo é justamente o homem que atirou no irmão de Pascoal em um posto de combustível em Rio Branco Acre. Na época Hugo conseguiu fugir, mas Hildebrando montou uma operação usando a estrutura da Polícia Militar para caçar José Hugo oferecendo R$ 50 mil pelo paradeiro. Hildebrando nega a acusação.