Lá estava eu na avenida Conde da Boa Vista, no coração de Recife, assistindo com meus pais ao desfile cívico-militar do dia da independência do Brasil. Passei a infância nos anos 1970 aproveitando esse feriado, vendo tanques, outras viaturas militares e patriotas soldados estremecerem a avenida ao passarem, seguidos por animados colegiais e incontáveis bandas marciais. E quando a honrosa FAB cortava os céus, reverberava em nossos corações o amor e o orgulho de sermos brasileiros e brasileiras.
A euforia desse momento continuava após o desfile, quando íamos às inigualáveis praias pernambucanas comentando as bravuras de Dom Pedro I e o quanto nossa pátria ainda precisava ser independente. Digo euforia no sentido de alegria, otimismo e sensação de bem-estar que, conforme a psicopatologia, são bem diferentes da normalidade da vida cotidiana. Ora, mas quem não gosta de se sentir eufórico vez por outra! E o 7 de setembro era a data da euforia cívica, dessa emoção diante do mavioso Hino Nacional e do lindo pavilhão verde-amarelo.
Sim, eu sei que foram anos fardados. Aquela euforia de independência nos levava a ver o incomparável Tarcísio Meira na tela interpretando o grito às margens do Ipiranga. Estávamos há mais de um século independentes de Portugal, porém tão dependentes das ideologias do momento… Aqui e ali, nas paradas de ônibus, os cartazes com os "terroristas" procurados mostravam fotos de rapazes e moças cuja voz e canto e ações incomodavam o establishment vigente…
Hoje estou quase na terceira idade. Não tenho mais meus pais para me levarem ao desfile. E confesso que este ano sinto medo do dia 7. Medo tem a ver com consciência do perigo, temor, receio, cuidado. Naqueles distantes anos, depois do feriado sabíamos com certeza que cada um voltaria a seu cotidiano. Hoje, a incerteza gera o medo: o que acontecerá ao nosso Brasil? Será que o after day aprofundará mais ainda a terrível cicatriz ideológica que foi aberta em nossa pátria? Será que é isto que brasileiras e brasileiros desejam todo dia para suas vidas, seus filhos e netos?
A euforia é momentânea: logo se dissipa com a realidade. O medo pode demorar mais. Porém, também é a realidade que nos faz superá-lo! O 7 de setembro não pode perder o brilho diante de ameaças (não mais portuguesas!) de alguns que insistem em usar o gatilho em vez do diálogo, incitando rupturas e desrespeitos ao estado democrático de direito, prejudicando o ideal maior de brasileiras e brasileiros que é continuarmos construindo uma pátria amada com justiça, moradia, saúde, educação, trabalho, segurança, pão sobre as mesas e paz em cada amanhecer. Por isso agora fazemos preces para que o brilho de nossa bandeira volte a significar que somos um só povo desejoso de simplesmente ser feliz – neste e em todos os 7 de setembros que virão.