A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo. Se estende por oito países da América do Sul e funciona como um grande regulador climático na região. No Brasil, ela ocupa 56% do território nacional. Entretanto, esse cenário vem se transformando ao longo dos anos com o avanço do desmatamento ilegal, queimadas e garimpo. Frente a este cenário, iniciativas que promovem a restauração e conservação da floresta aliadas à geração de renda mostram que existem alternativas para um futuro mais sustentável.
Cientistas do MapBiomas analisaram imagens de satélite de todo o território nacional entre 1985 e 2020 e constataram que a Amazônia perdeu 10,4% da sua superfície de água nesse período. Foi a segunda maior redução do país, ficando atrás apenas do Pantanal (68%). A pesquisa também mostra a perda de vegetação nativa. No bioma, 15% já é ocupada pelo agronegócio.
O avanço da degradação das florestas impactam diretamente nas mudanças climáticas e os efeitos já são sentidos em nível local e global, vide o aumento da temperatura do planeta e a grave crise hídrica que vivemos. "A Amazônia possui um equilíbrio único. O excesso de temperatura é provocado pela redução da cobertura florestal, que reduz a diversidade de plantas nativas e a quantidade, tendo como consequência imediata menos chuvas", explica o biólogo doutor em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente Marcelo Lucian Ferronato, coordenador de projetos da Ação Ecológica Guaporé – Ecoporé.
Boa parte das chuvas que caem sobre a produção agrícola no centro oeste e que abastecem os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste são geradas pelas árvores da floresta amazônica. Ou seja, sem ela, boa parte dos alimentos produzidos pelo Brasil fica prejudicada. Isso afeta diretamente a economia brasileira, altamente dependente da produção agropecuária.
É preciso mudar este cenário
Marcelo avalia que as cadeias produtivas ligadas ao agronegócio são para a maioria dos agricultores a única alternativa econômica que garante comercializar a produção e, para eles, essas porções de floresta remanescentes nas propriedades, apesar de importantes mantenedoras de serviços ecossistêmicos, são áreas, consideradas por alguns deles, improdutivas, logo, quando em pé, são um empecilho para a expansão de sua produção agropecuária".
Para mudar este cenário, é preciso investir em novos arranjos produtivos que considerem a economia da floresta em pé e a recuperação florestal para frear o desmatamento e gerar renda. "Além disso, as cadeias produtivas da agropecuária precisam ser otimizadas e produzir mais em menos áreas, com investimentos em tecnologia e inovação. É preciso urgente conciliar agropecuária com a conservação da floresta. Não há outro caminho", afirma o pesquisador.
Equilibrando a balança
É com esse objetivo que a Ecoporé trabalha para equacionar a recuperação de áreas desmatadas em Rondônia e as riquezas proporcionadas pelo setor produtivo, envolvendo agricultores familiares nesse processo e atuando, também, junto a povos e comunidades tradicionais.
Atualmente a instituição desenvolve dois grandes projetos neste sentido. Em deles com a meta de plantar 1 milhão de árvores em 9 terras indígenas da porção centro-sul de Rondônia e noroeste do Mato Grosso. Já são mais de 300 famílias indígenas contempladas. "O objetivo é fortalecer a economia indígena com sistemas produtivos… dinheiro que dá em árvore", explica Paulo Bonavigo, coordenador do projeto.
O outro é o Viveiro Cidadão, que está em sua 3ª edição de patrocínio da Petrobras. Realizado desde 2013, o projeto já apoiou cerca de 300 agricultores familiares no plantio de aproximadamente 2 milhões de árvores, a fim de garantir a segurança hídrica das propriedades, regularização ambiental, segurança alimentar e geração de renda dessas famílias. "Entre 2017 e 2019, para ter uma noção, estudamos o impacto econômico da doação de 70 mil mudas de 12 espécies a 138 mulheres. "Verificamos que essas mudas podem gerar mais de R$ 2 milhões de riqueza acumuladas nos 6 primeiros anos de produção", cita Marcelo. A experiência foi relatada no livro Terra e Mata, disponível para download gratuito no site da instituição.
Com grande foco na Educação, a instituição anuncia que está fundando a Escola da Restauração Econômico-ecológica, com o objetivo de formar pessoas propagadoras dos aprendizados gerados pelo núcleo de inovação. Além disso, a Ecoporé criou a ReSeBa – Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica, a fim de envolver agricultores, extrativistas, indígenas, quilombolas, empresas, agroindústrias e instituições para produção, venda e coleta de sementes agroflorestais.
"Assim, esperamos estabelecer e aperfeiçoar cadeias de valor para geração de riqueza, atendendo tanto às necessidades imediatas de agricultores familiares e populações tradicionais com as quais trabalhamos, até a obtenção de receitas a longo prazo com a estruturação de arranjos produtivos locais baseados na ampliação de negócios florestais", finaliza Marcelo Ferronato.
No acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal na Amazônia, fotalecer o Código Florestal e restaurar 12 milhões de hectares de florestas; e experiências como essas mostram que ainda é possível reverter o cenário crítico que vivemos, gerar riquezas e respeitar a capacidade do planeta. A década da restauração é um momento de expansão e mobilização da sociedade em prol da recuperação de áreas degradadas, a partir da consciência de que, assegurar a conservação das florestas em pé, já não garante a segurança climática das nações, é preciso que haja esforços também para recuperá-las.