Por Núbia L. S. Sussuarana
O hospital de Pronto Socorro João Paulo II que conhecemos hoje, tem uma história que converge com uma das mais importantes ondas migratórias do Estado de Rondônia em meados de 1980. A unidade foi inaugurada em 1984 com o objetivo de atender as demandas dos trabalhadores da Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. – Eletronorte, envolvidos na construção da Usina Hidrelétrica de Samuel.
Neste período o povo rondoniense ainda estava inebriado com a alegria da “nova estrela no azul da União”, o Território acabara de tornar-se Estado. Embora o esforço do ex-governador Jorge Teixeira, o Teixeirão, para preparação urbanística e social na viabilização do nascimento do recente Estado, algumas heranças estruturais na área da Saúde apresentavam-se deficitárias. É neste cenário que surge o projeto da construção do hospital da Odebrecht (empreiteira responsável por construir a Usina de Samuel).
O empreendimento foi erguido numa área onde antes funcionava um cemitério, na zona sul de Porto Velho. Como a capacidade de atendimento do hospital foi pensado focalizando apenas nas demandas dos barrageiros da UHE de Samuel havia, até meados de 1984, apenas 50 leitos e uma maternidade.
Carteira de nascimento de Marcelo Lopes expedida em 1985, na extinta Maternidade do João Paulo II (1982 1986)
O sargento M. Lopes do Corpo de Bombeiro Militar do Estado de Rondônia, 35 anos, foi uma das várias crianças que nasceu na Maternidade da Odebrect (1985), como era popularmente conhecida. Marcelo Lopes é filho de Nilza Lopes, ex funcionária da Construtora Odebrect. Que orgulhosa relata, “Meu filho, nasceu no João Paulo II e hoje, conduz pacientes a este hospital.”
Com a finalização das obras da usina (1982-1986), o hospital passou de caráter particular e de atendimento à uma clientela específica, para abarcar as necessidades de urgência e emergência de todo Estado. Em 1989, o Governo de Rondônia adquiriu as instalações da unidade hospitalar e o reinaugurou em 1990 com o nome de Pronto Socorro João Paulo II. Nesta nova versão, a maternidade foi desativada.
A projeção inicial que motivou a construção do pronto socorro, não suportou o vertiginoso crescimento populacional do Estado de Rondônia que se revelou como o estado com um boom demográfico devido as outras ondas migratórias que seguiram à construção da UH de Samuel a 54 quilômetros da capital; estruturada num dos afluentes do rio Madeira, o rio Jamari, concentrada na cachoeira de Samuel (margem direita).
Dentro do contexto social e urbano do recente Estado e o crescimento demográfico verificado devido aos processos migratórios que antecederam e sucederam a construção do hospital João Paulo II, motivados pelo desenrolar da onda da passagem do Território de Rondônia para Estado e a própria construção da UHE, o cenário social, apresentou deficiências incalculáveis não somente na Saúde, mas também na Educação, Moradia, Segurança… Neste sentido, ao passo que foi pensado no Hospital da Odebrecht, foi inaugurado uma unidade da Escola Pitágoras e os habitacionais da Vila da Eletronorte. Sendo que, somente o hospital, passou para a rede do Estado.
O Pronto Socorro João Paulo II, mesmo com reformas, implementos, ações de melhoria e extensão, não conseguiu acompanhar a mesma velocidade de crescimento demandado ao jovem estado, os desafios enfrentados pelos servidores e os pacientes do hospital confirmam relatos de calamidade à falta de equipamentos, profissionais, medicamentos, sem contar com os recorrentes “pacientes no corredor.” A verdade é que as demandas do hospital, ultrapassam as fronteiras de Rondônia, atendem pacientes de alguns municípios do Amazônas e ainda os migrantes, haitianos, venezuelanos; estas demandas ajudam a degolar a capacidade do hospital.
Contudo, hoje a história de mazelas do corpo profissional e de usuários desta unidade hospitalar, está prestes a dar um salto quântico com o erigir de uma nova instalação, agora, Hospital de Emergência Urgência de Rondônia – Heuro. Um empreendimento revolucionário operacionalizado por meio do sistema, o Built to Suit (BTS).
O sistema é um modelo inovador e, segundo especialistas com vantagens, pois atende em construção predial o locatário no tipo de imóvel que ele necessita. O BTS, significa “construído para servir”; a contratante fica com a posse do empreendimento após o término do pagamento, enquanto isso, o contratado assume a responsabilidade por toda manutenção predial. Justamente por isso, explica-se as vantagens para quem contrata.
Núbia L. S. Sussuarana, Mestra em Letras, membra do Grupo de Estudos de Cultura e Modos de Vida Amazônicas – Gepcultura/Unir. Professora de História e Libras. Autora dos livros: Metaplasmos na Libras; Amazônia pelos Amazônidas e Sinais para Conhecer Rondônia, História, Cultura e Libras.