Amazônia sem escola, fronteira do calvário, educação causticante do cadafalso e a masmorra da infelicidade que ceifa sem comiseração a vontade constitucional do ato sagrado de aprender. Geopolítica internacional sem brandura e tolerância, que durante séculos tornou-se aversa aos direitos humanos individuais e coletivos das populações tradicionais da Pan – Amazônia.
Políticas públicas da invisibilidade fronteiriça que abdica ao imaculado ato do processo ensino – aprendizagem, que renuncia de forma abrasadora a escola, e que criminalmente cerceia o direito dadivoso do conhecimento científico. Ardiloso e negligente “nacionalismo totalitário” de um Estado nacional depreciador da educação e da cultura, que se mune de concepções estigmatizadoras e estereotipadas para dilacerar relações ontológicas entre o ser e o ente.
Despautério estatal desprovido de valores, autoridade tirana e arbitrária que no espúrio de uma devassidão contemporânea, provoca sem escrúpulo, o escárnio de coletividades tradicionais ribeirinhas no Noroeste da floresta pandina boliviana.
Desmazelo desmedido que condena a comunidade Puerto Bolívar à empáfia e insolência humana. Enclausurada pelo engodo das políticas publicas bolivianas, essa tradicional comunidade da Pan – Amazônia construiu a Escola 1º de Maio com cobertura de palha, chão batido, bancos e quadro de madeira, no intuito de ofertar as primeiras lições aos seus filhos.
Degradação hostil e delituosa de uma república que continua de forma negligente, anunciar a derrocada das populações ribeirinhas do Departamento de Pando. Enlutadas, crianças choram no pé da cova na fronteira de um rio que mais une do que separa. Na margem esquerda das águas do Abunã estamos plantando uma nova semente destinada ao ensino híbrido, enquanto na margem direita das mesmas águas, a semente das primeiras lições se quer chegou.
Afugentada, a esperança não pode alçar voo nas asas da educação pandina. Maestros voluntários continuam sonhando para que um dia a esperança possa enfim, voar e bater na porta da escola mátria. Benevolente em suas ações humanitárias, Extrema de Rondônia – em parceria montada com o sentimento enleado do Gepcultura & Gepgênero – continua levando a esperança do bem viver às coletividades fronteiriças do rio Abunã, e nesse sentimento de perenidade e empatia, continuamos a acreditar que a comunidade Puerto Bolívar seja ontologicamente abraçada pela república do fim do mundo.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Percival Farquhar o maior empresário do Brasil: Territórios, Redes e Conflitos na Implantação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM-RO) e na Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (EFSPRG-PR/SC), da Universidade Estadual de Londrina e do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito, também da Universidade Estadual de Londrina.