O vírus do Nilo Ocidental foi detectado pela primeira vez em Minas Gerais em uma pesquisa liderada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Piauí (UFPI). O estudo também confirmou a circulação do patógeno no Piauí e em São Paulo.
As amostras positivas foram coletadas de cavalos que adoeceram entre 2018 e 2020. Os cientistas obtiveram o sequenciamento do genoma completo dos microrganismos nos três estados, e os resultados foram divulgados em artigo publicado como prévia (pré-print) na plataforma bioRxiv.
O vírus do Nilo Ocidental é transmitido a aves silvestres por meio da picada de mosquitos infectados – os do gênero Culex, popularmente conhecidos como pernilongos ou muriçocas, são os principais vetores. Acidentalmente, outros animais, como os equinos, e seres humanos podem ser infectados e até desenvolver quadros graves, com risco de morte.
O vírus foi isolado pela primeira vez em Uganda, em 1937, e permaneceu restrito a países da África, Europa e Ásia durante décadas.
No Brasil, as primeiras evidências sobre a presença do vírus foram encontradas em 2009. De acordo com o IOC, desde então, pesquisas têm apontado sinais de infecção em cavalos de diferentes estados do país, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraíba, Espírito Santo, São Paulo e Ceará. No entanto, casos humanos da doença foram registrados apenas no Piauí.
O estudo sugere diferentes introduções do microrganismo no Brasil a partir de países do continente americano. Na árvore filogenética – estrutura que agrupa os vírus que compartilham um ancestral comum –, os vírus sequenciados em Minas Gerais, São Paulo e Piauí aparecem no mesmo ramo de um genoma previamente sequenciado nos Estados Unidos. Eles também apresentam como ancestrais mais próximos o vírus proveniente da Colômbia e da Argentina.
De acordo com a pesquisadora visitante do Laboratório de Flavivírus do IOC, Marta Giovanetti, os dados ‘indicam que a mobilidade humana pode desenvolver um papel importante na transmissão e introdução do patógeno’. Segundo ela, o Brasil apresenta condições climáticas ideais para a propagação dos mosquitos que transmitem o vírus, o que aumenta a necessidade da vigilância.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus do Nilo Ocidental não apresentam sintomas. Em casos sintomáticos, a febre do Nilo Ocidental geralmente se manifesta de forma leve, com febre, dor de cabeça, cansaço e vômito.
As formas graves da doença, como meningite e encefalite, atingem uma em cada 150 pessoas. Os sintomas podem incluir febre alta, rigidez da nuca, convulsões, coma e paralisia.