Reportagem da Folha divulgada no início dessa semana mostra que a superlotação das Unidades de Terapia Intensivas (UTIs), tem intensificado uma prática um tanto quanto velha nos ambientes hospitalares do Brasil.
A prática consiste em amarrar os braços dos pacientes entubados e evitar que eles tenham uma reação agressiva no momento começam a tomar consciência. De acordo com os médicos ouvidos pela reportagem, o procedimento é conhecido como contenção mecânica. A prática é usada há anos em UTIs. Para os médicos, o processo é um mal necessário já que a pandemia da Covid-19 por um conjunto de fatores tornou a contenção ainda mais usual nas unidades de terapia intensiva.
A reportagem cita que conseguiu vídeos de pacientes com as mãos amarradas no Hospital de Campanha – Cero em Porto Velho foram obtidas pela reportagem da Folha. Nas imagens mostram pacientes intubados e se movimentando lentamente. Os braços estão atados com panos nas laterais das camas hospitalares. Richael Costa, diretor-geral da unidade confirmou as imagens são de pacientes com Covid-19 internados no Cero.
Profissionais da saúde confirmara que a prática na unidade está associada com à falta de sedativos e tranquilizantes. Medicamentos do chamado kit de intubação chegara ao fim nesta fase crítica da pandemia, em que 17 estados e o DF. Rondônia está entre eles. O Estado conta com UTIs com mais de 90% de ocupação. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, (Anvisa) flexibilizou regras para tentar evitar o esgotamento de sedativos e bloqueadores neuromusculares nos estados.
O mesmo jornal mostrou no dia 20 que profissionais de saúde estão recorrendo a drogas de segunda ou terceira linha para garantir a sedação ou compensando a ausência de bloqueadores com mais sedativos.
Para a reportagem, o diretor do Cero informou que a contenção mecânica de pacientes não é feita por falta de medicamentos do kit intubação. “Os sedativos não acabaram. E temos bloqueadores. Temos todos os medicamentos na unidade”, disse. Segundo Costa, o que se vê nas imagens é o momento do “desmame” dos sedativos, o despertar de pacientes intubados durante o processo de retirada gradual do tubo, em razão da melhora do quadro clínico.
Costa reconhece que existe uma dificuldade de aquisição de medicamentos do kit intubação e que isso leva ao uso de drogas de “segunda ou terceira escolha”. “A contenção de pacientes só pode ocorrer com ordem médica”, explica.
A Secretaria de Saúde de Rondônia informou, em nota, que não faltam sedativos no hospital de campanha. “O procedimento aplicado, de contenção de pacientes no leito, é uma prática assegurada por lei e faz parte da dinâmica de atendimento dos pacientes. É usado apenas quando o paciente apresenta agitação física ou agressiva e serve unicamente como proteção do paciente e da equipe.”
Médicos ligados à Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) relatam que a prática de contenção se intensificou nas UTIs com a pandemia, e apontam razões diversas para isso. A mais óbvia é a quantidade enorme de novos casos graves, com necessidade de intubação. Soma-se a isso a falta de profissionais de enfermagem em quantidade suficiente para acompanhar todo o processo de “desmame” da sedação, ao lado dos pacientes.
Os profissionais relatam que a falta de tranquilizantes também contribui para a adoção da técnica. Segundo eles, há unidades de saúde que haviam abandonado a prática e que precisaram retomá-la diante do colapso no atendimento a pacientes com Covid-19.
Uma alternativa à contenção, segundo esses profissionais, seria a confecção de luvas com tecido ou esparadrapo, de forma a evitar que os pacientes consigam arrancar equipamentos.
O médico intensivista Rodrigo Biondi, que atua em Brasília, acrescenta outro fator, que contribui para a maior necessidade de contenção: pacientes com Covid-19 são mais difíceis de sedar e demandam uma maior quantidade de sedativos.
Eduardo Nogueira, que preside a Sociedade de Terapia Intensiva do Sergipe, afirma que o “delirium” – um despertar agitado e combativo do paciente – é frequente em pacientes com Covid-19 em estado grave, durante a fase de retirada dos sedativos.
Com informações da Folha