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Policiais militares do Rio Grande do Sul se envolveram em uma operação de incomum: um jovem de 18 anos com o coração partido. O rapaz tinha se deslocado de Gravataí (RS) até São Paulo (SP) para se encontrar com uma garota com quem vinha namorando pela internet pelos últimos dois anos. A jovem não compareceu ao encontro, bloqueou o rapaz das redes sociais e ele ficou sem ter como voltar ao estado de origem.
Órfão de mãe e sem conhecer o pai, o jovem, identificado apenas como Matheus, estava com apenas R$ 15 na carteira no terminal rodoviário do Tietê, na capital paulista. Ele, então, ligou para o soldado Diogo Rafael Ávila de Moura, do 17ºBPM, em Gravataí, que lhe deu aulas na adolescência por meio do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd).
O soldado, que integra o Proerd há seis anos, sentiu empatia pelo rapaz e resolveu ajudar. "Sou pai, fico emocionado, me coloco no lugar dele. Imagina se fosse a minha filha lá?", questionou Ávila, pai de uma menina de três anos.
Amor não correspondido
Conforme o agente, Matheus tinha resolvido morar com a garota por quem se apaixonara. Ele combinou de se mudar para a casa da então namorada — que ele acreditava viver em Osasco (SP) — e rumou a São Paulo apenas com o dinheiro da ida. No entanto, ao chegar à rodoviária no último domingo (7), a amada parou de responder às mensagens do jovem.
"Ele começou a se preocupar, isso no domingo de manhã. De tarde, ele me mandou a primeira mensagem", contou o policial, que passou a aconselhar o rapaz. "Eu de pronto comecei a conversar com ele, orientar ele, acalmar ele, porque como a gente sabe, São Paulo é cidade grande. Eu falei: calma, que três ou quatro horas (de atraso), na minha percepção, em São Paulo, é quase que chegar no horário. Fiquei acalmando ele: talvez tenha acontecido algum acidente, algum imprevisto e tal", comentou.
O sumiço da namorada, porém, continuou, bem como a decepção de Matheus. "Na segunda de manhã, ele me retornou de novo: bah, ela não veio, não me mandou mais mensagem. Eu falei: não, continua no banco da rodoviária, fica aí", disse o policial.
Desespero
Sem cartão de crédito e com pouco dinheiro, Matheus ainda tinha esperança de pegar um carro por aplicativo até Osasco para encontrar com a namorada. Ele, contudo, não conseguiu entrar em contato com ela. "Na segunda de tarde, ele já estava desesperado, me ligou chorando: bah, eu acho que caí num golpe. Ela me bloqueou, não fala mais comigo e tal. Aí eu: não, te acalma que eu vou começar a organizar tua vinda, fica tranquilo", continuou o soldado.
A partir disso, o policial Ávila acionou seus chefes para a montagem de um esquema que possibilitasse o retorno de Matheus ao estado gaúcho. Após alertar um tenente e um major da Corporação, o caso foi divulgado para toda a rede Proerd do estado. Com isso, foram arrecadados R$ 500, suficientes para pagar a passagem da volta e gastos com a alimentação de Matheus. A quantia, segundo o agente, foi conseguida em minutos.
"A major Karina e o nosso comandante, coordenador estadual do Proerd, coronel Cilon, me chamaram inbox e eu expliquei de novo toda a situação que estava acontecendo. Deu uma questão de minutos, uma major de São Paulo me chamou no WhatsApp e a capitã Lídia, do Proerd de lá: estou mandando agora uma guarnição pro terminal Tietê em São Paulo, onde ele está, e nós vamos achá-lo", disse Ávila.
Retorno do jovem ao RS
O instrutor Ávila recebeu Matheus na rodoviária de Porto Alegre na noite de quarta-feira (10), acompanhado pelo tenente-coronel Cilon, coordenador estadual do Proerd. "Quando ele desceu do ônibus aqui ontem, a primeira frase que ele falou, ele me olhou chorando e falou: eu tinha certeza que o senhor não ia me deixar lá", relatou.
O policial pontuou que ajudar no desenvolvimento do Proerd é "muito gratificante". "Numa das últimas aulas, eu falo da rede de ajuda, a quem eles podem pedir ajuda: pai, mãe, tios, primos, policial militar, bombeiro, policial civil. Então isso pra mim é muito gratificante, porque no momento em que ele mais sentiu perigo, mais sentiu medo, ele ligou pra mim", sinalizou, ressaltando que Matheus é atingido por "elevada vulnerabilidade social".
Depois do encontro emocionado, o jovem de 18 anos recebeu um kit de boas-vindas e foi levado, por uma viatura, à casa de sua madrinha, em Gravataí, que se comoveu com a situação e o retorno do afilhado.
O PM frisou que a divulgação da história é importante para que outros jovens não passem pela mesma situação, classificada como "asneira". "Com certeza, nesse exato momento, tem muitos jovens aí, adolescentes nessa mesma situação de namoro, de relacionamento. A gente, como policial militar do Proerd, tem que orientar essa gurizada", declarou.
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