O horror de morrer sufocado, sem ar, aconteceu esta semana em Manaus, no momento mais crítico da pandemia de Covid-19. O estoque de oxigênio nos hospitais acabou, e pacientes agonizaram sem poder respirar. Profissionais de saúde e as famílias dos doentes entraram em desespero. O colapso que se anunciava veio de forma devastadora.
As imagens de celular mostram a situação do Hospital 28 de Agosto no sábado (16): lotado. Um paciente colado ao outro. Uma médica que trabalha no hospital diz que quando o oxigênio estava chegando ao fim, a única forma de manter os pacientes vivos foi reduzir a quantidade que cada um recebia.
Foi na quinta-feira (14) que o problema da falta de oxigênio nos hospitais saiu do controle. As primeiras imagens que chegaram às redes sociais eram de desespero.
“A gente se sente impotente, essa é a palavra. Temos uma notícia de que o oxigênio está acabando, vai acabar em uma hora. Como falar isso para o nosso paciente? É desesperador para gente, é angustiante, dói, dói na alma você ver um paciente pedir ajuda e você não poder ajudar no mínimo, que é oxigênio”, conta uma médica que trabalha no hospital.
No mesmo dia, o governo do Amazonas decretou toque de recolher entre 19h e 6h, com exceção dos talhadores de serviços essenciais. E começaram as transferências para outros estados.
Ao mesmo tempo, o Reino Unido proibia a entrada de brasileiros por conta da nova variante do coronavírus descoberta no Amazonas. Segundo um dos pesquisadores que fizeram a descoberta, é bem provável que a variante também seja mais transmissível, assim como as linhagens encontradas no Reino Unido e África do Sul.
A variante foi detectada em um caso de reinfecção ainda em novembro. No início da semana, o ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, esteve em Manaus para acompanhar o aumento de casos e anunciar medidas para controlar o avanço da pandemia. Ele disse que a logística para ajudar o estado estava funcionando.
Na terça-feira (12), o presidente Bolsonoro disse que o Amazonas não implantou o que chamou de tratamento precoce – uma referência à recomendação do Ministério da Saúde para o uso de medicamentos que a Organização Mundial de Saúde e a comunidade científica não reconhecem como eficazes para a Covid. O presidente responsabilizou os governos estadual e municipal pela falta do oxigênio.
Para Raul Veloso, especialista em contas públicas, o colapso do sistema de saúde de Manaus foi resultado da falta de cooperação entre os gestores e, principalmente, ausência completa de comando.
O repórter Alexandre Hisayasu acompanhou a angústia de parentes na busca por socorro.