A Rede Teatro da Floresta, com fazedores nos setes estados da Região Norte, vem a público exigir urgência dos entes públicos, Estados e Municípios, na destinação dos recursos da Lei Aldir Blanc, afinal trata-se de uma lei emergencial e que tem por objetivo salvar os trabalhadores, as trabalhadoras e toda a cadeia produtiva da cultura.
Somos uma região profunda e rica, com culturas muito diversas, como indígenas (na complexidade dos seus diversos povos), quilombolas, ribeirinhos, com comunidades de povos da floresta, de rios e das cidades. As práticas culturais da região estão apartadas dos grandes centros e relegadas ao abandono dos poderes públicos locais, a prova disso é que o CUSTO AMAZÔNICO (anexo) votado como prioridade nas Conferências Nacionais de Cultura nunca foi posto em prática.
Atualmente, devido a pandemia do COVID-19, todas as nossas atividades culturais estão paradas e não temos ideia de quando será nosso retorno. Em uma articulação nacional inédita, os artistas conseguiram fazer com que o Estado brasileiro destinasse 3 bilhões do Fundo Nacional de Cultura à cadeia produtiva e a todos os trabalhadores e trabalhadoras de cultura do país. Esses recursos são nossos por direito e não devem retornar aos cofres da União, pois impossibilitará a continuidade dos nossos fazeres artísticos. Cabe ressaltar que os Municípios que não entregarem seus planos de execução na Plataforma +Brasil, negligenciarão nosso fazer e responderão por omissão de receitas (Lei 101/2000). Quem tem fome tem pressa. Os artistas têm urgência. Exigimos a aplicabilidade dos recursos em toda Região Norte, só assim continuaremos a produzir arte em nossa região.
O tempo passa e o descaso continua. Por isso, em nossa busca por políticas públicas culturais, insistimos em nossa afirmação de uma década atrás, em nossa Carta Pororoca (2010):
A Rede Teatro da Floresta busca uma biopolitica construída por artistas/articuladores do Teatro da Amazônia. A Rede entende que o Brasil, com todas as suas instituições e mecanismos de políticas culturais para as artes do teatro, não poderá continuar míope quanto aos artistas do norte do país e suas poéticas e procedimentos cênicos, e principalmente, deixar de reconhecer o que significa o CUSTO AMAZÔNICO do fazer cultural/teatral em nossa região, implicando uma compreensão das dimensões histórica, geográfica, sócio-política, econômica e imaginária de nossa terra e tribos.
Que se cumpra.
16 de outubro de 2020
ASSINA:
REDE TEATRO DA FLORESTA
APOIAM:
1. Teatro Ruante – Porto Velho/RO
2. Grupo Xingô – São Paulo/SP
3. Trupe será o Benedito- Caicó/RN
4. O Imaginario -Porto Velho / RO
5. Grupo Manjericão – Porto Alegre/RS
6. Teatro Imaginário Maracangalha – Campo Grande MS
7. Companhia Opinião – SP
8. Teatro em Trâmite – Florianópolis/SC
9. Nativos Terra Rasgada – Sorocaba/SP
10. Nucleo Aclowndemia de Palhaçaria – Sorocaba/SP
11. Cia. Estável de Teatro – São Paulo/SP
12. Grupo TAMTAN – Tanquinho-Bahia.
13. Grupo Pombas Urbanas – São Paulo/SP
14. Grupo Teatro de Caretas / CE
15. Trupe Olho da Rua /Santos-SP
16. Grupo TIA / Canoas-RS
17. Grupo teatral Hemisfério
18. Coletivo de Artistas, Produtores e Técnicos em Teatro do Amapá-CAPTTA
19. Centro de experimentação artístico e Cultural encanto dos alagados-AP
20. Cirquinho do Revirado Criciúma SC
21. Grupo de Teatro De Pernas Pro Ar – Canoas R
22. Mamulengo Rasga Estrada – Presidente Prudente – SP
23. Coletivo Fulô – Crato – CE
24. ERRO Grupo – Florianópolis – SC
25. Trupe Circuluz – Olinda – PE
26. Palhaço Piruá – Natal – RN
27. Grupo Máscaras – Guaranésia – MG
28. Grupo Rosa dos Ventos- Presidente Prudente SP
29. Núcleo Sem Drama Na Cia da Cabra Orelana – São Paulo SP
30. Bojiganga de Artes – São Paulo- SP
31. Esquadrão da Vida – DF
32. Cia de Teatro Madalenas – Belém-PA
33. Cia Vulcânicas – São Paulo – SP
34. Cia Lamparim de Circo e Teatro – Quixeramobim – CE
35. CHAP – RJ
36. Grupo Cutucurim – Angra dos Reis-RJ
37. Corpos & Sombras – teatro e circo – São Leopoldo-RS
38. Grupo Mãe da Rua – São Paulo
39. Grupo A Pombagem / Salvador-Ba
40. Cia Circunstancia – Belo Horizonte/MG
41. Brava Companhia/sp
42. MARL – Londrina / PR
43. Teatro Widia – Santos/SP
44. Flor e Espinho – Campo Grande/MS
45. Escarcéu de Teatro- Mossoró/RN;
46. Grupo Olho Rasteiro – Curitiba/PR
47. Cia LaCasa – Maceió/AL
48. Gira Cia Andante – Migu el Pereira/RJ
49. Teatro de Rocokóz – SP/SP
50. Rué La Companhia- Guarulhos/SP
51. Circovolante – Mariana/MG
52. Circo Pratodos.- Mariana/MG
53. Cia Colcha de Retalhojs SP/SP
54. MiraMundo Produções Culturais (MA)
55. Companhia Cultural Ciranduís – Janduís/RN
56. Árvore Casa das Artes – Vitória/ES
57. Teatro Itinerante RJ (Marcondes Mesqueu)
58. Como La em Casa Teatro & Cia Bella – São Paulo
59. Brava Companhia – São Paulo/SP
60. Bando GolíardXs – São Paulo/SP
61. Circo Teatro Capixaba – Divino de São Lourehnço/ES
62. Grupo GRUTTA – Tangará da Serra/MT
63. Cia. Fábrica SP – Peruíbe/SP
64. Lacarta Circoj Teatro de Rua – ES
65. O Buraco d'Oraculo – São Paulo/SP
66. Licko Turle PELE NEGRA – Salvador/BA
67. CIA DE TEATRO NU ESCURO/GOIANIA-GO
68. Grupo OffSina Rio de Janeiro- RJ
69. Teatro de Trincheira / Caraguatatuba – SP
70. Edmilson Santini – Cia Teatro Em Cordel
71. Grupo Mãe da Rua – São Paulo
72. Mamulengo Sem Fronteiras – DF
73. Povo da Rua – Porto Alegre/RS
74. Os Mamatchas – Morón/Buenos Aires
75. Salmonela Urbana Cia- Curitiba-PR
76. Bonita Lampião – São Paulo
77. Som na Linha – P. Prudente/SP
78. Grupo Put's de Teatro – Toledo/PR
79. Será O Benedito?! / RJ
80. Movimento PaCultura – Porto Velho/RO
81. Thiago Maziero – Músico e produtor cultural – Porto Velho/RO
82. Movimento Pró Cultura – Rondônia
83. Marfiza Calixto de França – Musicista e produtora – Rondônia
84. Walterlina Brasil – Diretora do Núcleo de Ciências Humanas da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
85. Rafael Altomar – Porto Velho/RO
86. Selma Pavanelli – Porto Velho/RO
87. Marina Quinan – Las Cabaças- PA
88. Juliana Balsalobre -Las Cabaças- PA
89. Projeto Roda na Praça – Manaus / AM
90. Maiara Rio Branco AsAguadeiras – Acre
91. Amanda Schoenmaker – AsAguadeiras- Acre
92. Criart Teatral – Boa Vista/RR
93. Romana Melo – Belém/PA
94. Antoniele Xavier – Macapá/AP
95. Jamile Soares Porto Velho/RO
96. Stephanie Matos – Porto Velho/RO
97. MAB – Movimento Atingidos pela Barragem – RO
98. CEVA – Cia Eventual de Artes – Rio Branco/AC
99. Cia. Garatuja de Artes Cênicas/ Ac
100. Everton silva – Mestre Arrepiado – Acre
101. Eurilinda Figueiredo – educadora, articuladora e ativista cultural – Rio Branco/Acre
102. Instituto Madeira Vivo
103. Espaço Cultural Maloca Mura de Nazaré
104. Elizeu Braga – Casa Arigóca – Porto Velho
105. Frente Brasil Popular/RO
106. Ângela Cavalcante – Atriz e diretora de Teatro – Porto Velho/RO
107. Grupo Quebracabeça – Porto Velho/RO
108. Marlúcio Emídio – Ator – Porto Velho/ RO
109. Suani Corrêa – Palhaços Trovadores – Belém/PA
110. Alessandra Nogueira – Palhaços Trovadores – Belém/PA
111. Companhia Paraense de Potoqueiros – Belém/PA.
112. Espaço das Artes de Belém – Belém / PA.
113. Associação de Teatro de Parauapebas- PA.
114. Grupo T.E.I.A. Belém/Pa.
115. Cia. Oliver de Teatro. Belém/Pa.
116. Cia. Teatral Nós Outros. Belém/Pa.
117. Grupo teatral Asas da Liberdade -Marabá/PA
118. Turma do sorriso – Marabá/PA
119 Grupo teatral Turminha de jesus – Marabá/PA
120 Instituto Cultural Hozana Lopes de Abreu – Marabá Pará
121. Companhia de Cultura L'os Fulanos. Oriximiná-PA.
122. Cia. Panada de Teatro – Tucuruí/PA.
123. Grupo de teatro GARAGEM TEATRAL – Tucuruí/PA.
124. Coletivo Curupiranhas – Bragança-PA;
125. Grupo de Teatro Palha – Belém do Pará.
126. GITA – Belém do Pará.
127. Cia. Theatro de Performances e Espetáculos – Belém/Pa
128. Dirigivel Coletivo – Belém/Pa
129. Associação Cultural Palhaços Trovadores-Belem/Pa
130. Grupo Limítrofe -Belém/PA
131. Bambare arte e Cultura Negra/AFAIA Belem-PA
132. Grupo de Teatro Olho d'água – Santarém -PA.
133. Grupo de Teatro de Bonecos Novos Nheengaíbas – Soure
134. Grupo Folhas de Papel – Belém – Pa
135. Cia teatral Bom Intento- Bujaru PA
136. Trupe de Teatro FLÔR DE LYZ – Ananindeua PA
137. Companhia em Educação e Cultura Ludico-Arte – Capanema PA
138. Cia de Teatro Kizomba – Bujaru-PA
139. Coletivo Alumiá e Mulheres na Técnica PA
140. "Kira" Rycley Bruce – Projeto Nimassa – Santarem/PA
141. Elder Aguiar- Grupo de Teatro Olho d'água – Santarem/PA
142. Maria Thaís – diretora teatral – São Paulo/SP
143. Ana Cristina Colla – Lume- Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais -UNICAMP
144. Milena Marqeus – Nascedouro Gestão Cultural, São Paulo/SP
145. Alexandre Roit – São Paulo – SP.
146. Jefferson Fernando Carneiro Alexandrino da Igreja / Grupo de Teatro T.E.M (Teatro Experimental do Mosqueiro) – Belém/PA
147. Leandro Pansonato Cazula – Projeto Iurupari, Grupo de Teatro, Santarém/PA
148. Maria Rita Costa da Silva-Rio Branco/AC
149. Luciano Flávio de Oliveira, Trupe dos Conspiradores, Porto Velho/Rondônia.
150. Raimundo Nonato Tavares, Companhia Vitória-Régia/Manaus Amazonas
151. Guilherme Henrique Brito Vieira | Grupo de Teatro 'Motirõ de Teatro' ,Gurupi/TO
152. Keila Silva – Celeiro Cultural , Ji-Paraná/RO
153. Maria da Conceição Gomes dos Santos., Grupo Iurupari, Santarém/PA
154. Juliana Gontijo, As Graças, São Paulo/SP
155. Lucas Alcides Justino- Grupo de Teatro Um Ponto Dois – Palmas/TO
156. Cícero Belém Filho | Cia de Teatro Fernanda Montenegro | Palmas – TO
157. Claudio Barros – Belem/PA
158. Luiz Evandro Rodrigues Barbosa (palhaço Pimenta) – Coletivo Circo Tapajós, Santarém/Pará
159. Fernanda Haucke, Cira Mor, São Paulo/SP
160. Cibele Forjaz, Cia Livre/ SP
161. Eliana Bolanho , Cia Teatral As Graças -São Paulo/SP
162. Eduardo Brasil / Cia 22:22 Teatro e Dança/ SP
163. Ana Clara Amaral/Cia 22:22 Teatro e Dança/SP
164. Jonas Santos Estevão/ arte de Rua Botucatu/ São Paulo
165. Lucenildo Soares Lima – Monte Alegre/PA
166. Roberto Borovik (Borô) – Alter do Chão, Santarém / PA
167. Auristela C.Castro
168. Francesco Zigrino – diretor teatral – Bolonha/Italia
169. Lamira Artes Cênicas – Palmas/TO
170. Annieli Valério, Uirapuru Cultura e Comunicação, Oriximiná/Pará
171. Leandro Oliva- Projeto Palco – São Paulo/SP
172. Aline Sasahara, documentarista, São Paulo/SP
173. Juliana Jardim, Ensaios Ignorantes, São Paulo/SP
174. Celso Maldos, documentarista – São Paulo/SP
175. Rosival Dias de Sousa. Cururim e Cia – Santarém/PA
176. Carlos Francisco – Grupo Folias D'arte – São Paulo/SP
177. Byanca Andréa
178. Grupo Cordão Encantado do Repente, Rio Branco/Acre
179. Giovanna Parra – Produtora, São Paulo/SP
180. Leandro Chaves Araujo, Rio Branco/AC
181. Jefferson Paiva de Sousa, Coletivo Tapajônico, Santarém/Pará
182. Doutores sorridentes – Marabá/PA
183. Val Oliveira/ grupo teatral Asas da Liberdade, Marabá Pará
184. Kelly Vanessa nunes de Sousa/ Panorando Cia e Produtora/Coletiva de Palhaças/Cacompanhia Manaus-AM
185. Kelly Lima, Circo di SóLadies, SP
186. Tatá Oliveira, Circo di SóLadies, SP
187. Veronica Mello, Circo di SóLadies, SP
188. Grupo GPT – Rio Branco/Acre
189. As Aguadeiras – Rio Branco/Acre
190. Cia. Expressão de Teatro – Rio Branco/Acre
191. Grupo do Macaco Prego da Macaca e Barulho do Acre – Rio Branco/Acre
192. Associação Cultural Artística Locômbia Teatro de Andanças – Boa Vista Roraima
193. Cia Art Teatro. Companhia, Meio Fio- Boa Vista Roraima
194. Fórum de Artes Cênicas – Boa Vista Roraima
195. Federação de Teatro do Acre – FETAC
196. Cia. Visse e Versa de Ação Cênica – Rio Branco – Acre
197. Associação de Teatro de Santarém – ATAS – Santarém – PA
198. Grupo Teatral Kauré – Santarém/PA
199. In Bust Teatro com Bonecos – Belém-PA
200. Rafael Barros – Porto Velho/Guajará-Mirim – Rondônia
201. Taiane Sales – Porto Velho/Rondônia
202. Grupo de Teatro e Pesquisa Papa Xibé – Santarém (PA).
203. Everton silva – Mestre de Capoeira Arrepiado – Acre
204. Companhia de Cultura L'os Fulanos. Oriximiná-PA
205. Associação de Teatro de Parauapebas – Pará
206. CIa. Eventual de Artes Rio Branco Acre
207. Lúdico-Arte – Capanema PA
208. Movimento Cultural Desclassificaveis – AP
209. Zecas Coletivo de Teatro – Belém – PA
210. Soufflé de Bodó Co. – Manaus – AM
211. Trupe de Experimentação e Investigação em Artes -TEIA/PA
212. Zenital Produções – RO
213. Projeto Roda na Praça – Manaus/AM
214. Coletivas Xoxós – Belém/PA
215. Cia de Artes Evolução-Porto Velho/RO
216. Cia Teatral MeioFiu / Roraima-RR
217. Cia Arteatro /Boa Vista – RR.
218. Cordão Encantado do Repente/Rio Branco Ac
219. Cia. Sorteio de Contos – Belém/Pa
220. Grupo Experimental de Artes Vivarte Acre e Casa de Cultura Vivarte – Acre
221. Fórum de Artes Cênicas de Roraima
222. Tata Pacheco Arte-Belém/PA
223. Carolina Di Deus – Acre
224. Karimme Silva, Belem/PA
225. Nalzar O Portal das Artes Acre Kuran
226. Ancaca – Arte na Comunidade a Ceu Aberto, Marabá/PA
227. Espaço Cultural Kauré – Santarém – PA
228. Rede Brasileira de Teatro de Rua
229. Fórum Permanente do Teatro do Pará
230. Adailtom Alves Teixeira – Professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) – Porto Velho/RO
231. PAKY`OP – Laboratório de Pesquisa em Teatro e Transculturalidade do Departamento de Artes da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
232. Jussara Trindade Moreira – Professora da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
233. Alexandre Mate – professor da Universidade Estadual Paulista – Unesp
234. Alexandre Falcão de Araújo – professor da Universidade Federal de Rondônia
235. Fernanda Azevedo – Coletivo Comum – São Paulo/SP
236. Luiz Eduardo Frin – Professor de teatro – São Paulo/SP
237. Andressa Batista – Produtora cultural – Porto Velho/RO
238. Beatriz Georgopoulos Calló – Coletivo Comum – São Paulo/SP
239. Laura Melamed Barbosa – Grupo de Pesquisa Amorada – São Paulo/SP
240. Simone Carleto – Grupo de Pesquisa Amorada
241. Flávio Melo – Grupo Teatral Nativos Terra Rasgada – Sorocaba/SP
242. Rodrigo Morais Leite – professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
243. Núcleo Pavanelli – São Paulo/SP
ANEXO
CUSTO AMAZÔNICO
Existe uma região no Brasil composta por indígenas, europeus, asiáticos, negros africanos, caboclos e nordestinos brasileiros migrados, e principalmente, e quase totalmente, por uma mistura-mesclada de todos os outros citados, o "Homo amazonius", ser humano adaptado ao seu território.
Formada pelos sete Estados da região norte, mais parte do Maranhão e parte do Mato Grosso, esta região, a Região Geoeconômica da Amazônia ou Complexo Regional Amazônico, ocupa 59% por cento do território desse país, cerca de 5,1 milhões de quilômetros quadrados de barreiras geográficas, que obriga o ser humano adaptado a, dentro de um único Estado, levar 32 horas de viagem fluvial para ir de um município a outro, sem opção terrestre ou aérea. Ou, dentro de um único município, percorrer 900 km de um distrito até a sede urbana, por terra (digo, lama), sem opção fluvial ou aérea.
Ser humano adaptado a apenas duas estações: a de poeira, no verão, e a de lama, no inverno, se estiver em área terrestre, e a de lama, no verão e de muita água, no inverno, se for ribeirinho. O Clima equatorial úmido, predominante na região, gera altas taxas de precipitação pluviométrica. No verão chove todo dia, no inverno chove o dia todo. Em qualquer das situações, terá que enfrentar a malária, a dengue, a leishmaniose, e, a cada novo período de lama, o aumento de cerca de 40% no preço dos alimentos e medicamentos que podem ser comprados (se tiver onde comprar). Quem tem equipamentos eletrônicos ou qualquer outro bem com um mínimo de sensibilidade à umidade, necessita de um estado permanente de manutenção ou perda total de documentos, objetos, acervos.
Em centenas de lugarejos e comunidades de dezenas de municípios paga-se muito e arrisca-se a vida para simplesmente ir e vir, pois as únicas vias de acesso são os rios e igarapés da maior bacia hidrográfica do planeta, com quatro milhões de quilômetros quadrados só na Amazônia brasileira. Os barcos, meios de transporte predominantes na região, no geral, não tem equipamentos de segurança, a maioria não possui coletes salva-vidas, proteção contra o escapamento de fumaça do motor e nem contra o eixo de funcionamento (gerando um dos índices mais elevados de escalpelamento do mundo), sem conforto e limpeza. Ainda assim, é caro. O diesel que alimenta esses barcos sai de São Sebastião (SP) e percorre de 6 a 10 mil quilômetros para ser consumido e, nisso, entre navios, barcos, caminhões e muitos dias de viagem, gasta 10 milhões de reais, transformando-se no diesel mais caro do país.
Esse mesmo diesel torna a energia 5 vezes mais cara na região, pois é gerada em usinas termelétricas alimentadas…pelo diesel, que, além, jogam no ar, por ano, o equivalente a toda a frota de veículos da cidade de São Paulo no mesmo período. Com essas condições, existem distritos, comunidades e até regiões da Amazônia brasileira sem energia elétrica. Também, no trecho amazônico da transamazônica, 66% da população não tem água encanada e 27% não tem instalações sanitárias.
O ser humano adaptado, mesmo o mais adaptado, com toda a certeza prefere condições mais adequadas de vida. Disse adequadas. Ele não precisa de um prédio de apartamentos, nem de um carro do ano, alguns nem de trabalho precisam, pois já tem, mas de condições sanitárias melhores, comodidades que a energia elétrica estável permite, água encanada, médico, escola, arte, reconhecimento cultural. Os governos, sem disposição política de chegarem até essas pessoas, passaram anos estimulando o êxodo e hoje 73% da população amazônida vive nas cidades. Estes enfrentam problemas semelhantes aos das cidades do sul e do sudeste do Brasil (bolsões urbanos de desemprego, violência, drogas, sobrevida), mas, sem infraestrutura. Os outros, mais adaptados, que por algum motivo continuam na floresta ou nas beiras de estradas e de rios, sobrevivendo da pesca, do extrativismo vegetal ou da agricultura familiar, parecem ter menos direitos sociais de cidadania que os das cidades (eles não vivem nas cidades mesmo).
Sim, as políticas públicas no Brasil apresentam vários problemas. Mas, para a Amazônia, submetem o amazônida a um processo econômico que não o considera, não considera as características da região e, por conseguinte, não respeita a sua cultura. Repete experiências que deram certo noutros contextos culturais e naturais, concebe povo e natureza como primitivos e atrasados. A idéia de desenvolvimento sustentável, que considera o meio e seu sujeito, insere suas necessidades presentes e prevê condições futuras, não é essencial nessas políticas, aparece limitada a alguns programas de alguns órgãos dos setores ambientais. Ou seja, a grandeza, a riqueza e a diversidade da floresta são reconhecidas, mas o ser humano que a habita, não.
Falemos então dos custos disso. Esta região possui o 3º Produto Interno Bruto do Brasil (perdendo para o Centro-Sul e para o Nordeste), com uma economia baseada no extrativismo animal, vegetal e mineral. Algumas multinacionais estão instaladas na região, sobretudo na serra dos Carajás (Pará), de onde se extrai parte do minério de ferro do país. Alguns pólos industriais se destacam na região, a saber, o Pólo Petroquímico da Petrobras, com extração de petróleo e gás natural nos poços de Urucu, em Coari/AM, o Pólo Industrial de Manaus (PIM) e o Pólo de Biotecnologia, também em Manaus. O PIM fabrica a maioria dos produtos eletrodomésticos brasileiros valendo-se de uma política governamental de isenção de impostos.
Ainda que Manaus seja o terceiro Estado brasileiro em PIB per Capita, com R$ 13.534, Belém, Boa Vista e Palmas estão entre os do fim da fila, com R$ 4.875, R$ 4.749 e R$ 4.392, respectivamente. No ranking do Indice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Estado que chega mais perto do topo é o Mato Grosso, em 11º lugar. Vai seguido sequentemente pelo Amapá, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Pará, Acre e Roraima. O Maranhão é o penúltimo. O Acre tem o município líder na taxa de analfabetos: 60,7% dos 4,45 mil habitantes de Jordão não sabem ler ou escrever.
(Para falarmos um pouquinho de teatro, segundo o Anuário de Estatísticas Culturais, publicado pelo MinC em 2009, a Região Norte tem 46 teatros, perde para todas as regiões. Não vou nem falar dos 689 teatros do Sudeste. Os últimos cinco Estados da lista em quantidade de teatros são do Norte. A maioria dos equipamentos teatrais da região, senão todos, fica nas capitais. Palmas (TO), por exemplo, tem um teatro para 220 mil habitantes).
Considerando que isso seja resultado de uns quatro séculos de exploração em favor das metrópoles e da nação, ainda é um lugar onde o de fora aponta o que deve ser valorizado e explorado, indica o tipo de cultura apreciável, mostra o que se esperar para o futuro. Uma história de anulação da identidade cultural do ser humano da região, uma imposição de valores. Assim, a Região Geoeconômica da Amazônia ou Complexo Regional Amazônico, entrou nesse século com sua identidade cultural em risco de desaparecimento, substituida por uma imagem estrangeira de exotismos, sem um projeto firme de desenvolvimento adequado à sua gente e à sua diversidade de expressão.
Há uma situação a ser reparada, cuja responsabilidade é da nação. Há um reconhecimento a ser deflagrado sobre as possibilidades de um ser moderno, integrado à natureza, mesmo que em centros urbanos, sujeito da sua própria cultura (no caso dessa região, pela diversidade, diremos: culturas), capaz de escrever sua história. Atitude de grandeza humana para além de detrimentos entre regiões e sim de completude de uma expressão nacional. O "Homo amazonius" deve apontar seus próprios modelos, com o respeito e o reconhecimento das demais populações brasileiras.
População da Amazônia em 2009 (estimado) 24.728.438
Fontes:
Revista Veja Especial Amazônia, editora Abril, ano 42, setembro 2009. http://veja.abril.com.br/especiais/amazonia/index.html
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=354
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_estados_do_Brasil_por_IDH#IDH_Renda
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142002000200008
Amazônia: uma história de perdas e danos, um futuro a (re)construir. de Violeta Refkalefsky Loureiro (mestre em Sociologia pela Unicamp, doutora em Sociologia pelo Institut des Hautes Études de l'Amérique Latine (Paris) e professora da Universidade Federal do Pará).
http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2009/10/cultura_em_numeros_2009_final.pdf