A logística reversa pós-consumo já uma realidade e também um procedimento obrigatório no Brasil para fabricantes, distribuidores e comerciantes de alguns produtos com um alto potencial de danos ao meio ambiente, como as embalagens e resíduos de agrotóxicos e óleos lubrificantes, pilhas, baterias, lâmpadas compostas por mercúrio, vapor de sódio e os modelos fluorescentes e também os pneus.
Mais recentemente, em 2019, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) assinou o acordo setorial que regulamenta também a logística reversa de equipamentos eletrônicos em todo o Brasil. De acordo com o Decreto 10.2040 (12/02/2020), a meta do Governo Federal para minimizar os impactos ambientais causados pelos resíduos eletrônicos é que, até 2025, o território nacional alcance 5 mil pontos de coleta para esses equipamentos descartados.
Mas, afinal, como funciona um sistema de logística reversa e como ela pode ser ampliada e praticada por empresas e pela sociedade para beneficiar o planeta?
O ciclo do retorno
Atualmente, o consumo global gera uma série de resíduos não biodegradáveis, a exemplo de alguns tipos de plástico que levam centenas de anos para se decompor na natureza e desencadeiam um verdadeiro desastre ambiental.
Não bastasse a durabilidade destes materiais modernos, o processo de descarte de lixo como conhecemos vem se tornando cada vez mais obsoleto e ineficiente, agravando ainda mais o desenvolvimento sustentável de planeta. Aqui no Brasil, ainda convivemos com a inconveniente presença de mais de 3 mil lixões espalhados em 1.600 municípios, segundo dados coletados pela Associação Brasileira de Limpeza Pública e resíduos Especiais (Abrelpe).
"Neste cenário, a logística reversa atua como um meio mais inteligente, sustentável e com um grande potencial econômico a ser explorado por empresas de diversos segmentos", explica Guilherme Gusman, sócio e CTO da VG Resíduos, startup mineira especializada em tecnologias para gestão ambiental em indústrias e empresas.
Na logística reversa, tanto os fabricantes quanto os comerciantes e consumidores compartilham responsabilidades sobre o ciclo de vida dos produtos na cadeia de consumo. Cada uma das partes desempenha seu papel para que os resíduos gerados neste processo não sejam descartados na natureza:
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No início do ciclo, os fabricantes produzem seus produtos e respectivas embalagens e os encaminhar para a distribuição;
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Os distribuidores abastecem a rede varejistas com os produtos e bens de consumo;
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Nas lojas, esses produtos são comercializados aos seus consumidores finais:
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Os consumidores, por sua vez, utilizam seus produtos e descartam as embalagens.
É neste ponto, que o resíduo sólido é gerado após o consumo que a cadeia da logística reversa tem seu início, ainda nas residências:
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Em vez de simplesmente descartar embalagens e produtos usados no lixo comum, o consumidor final separa seu resíduo e o encaminha para coleta seletiva ou para postos de coletas especiais, que podem ser disponibilizados pelos próprios fabricantes e distribuidores;
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O material reciclável e reutilizável passa por um processo de triagem dos catadores ou tratadores especializados e é separado de acordo com a sua composição.
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O resíduo sólido separado é encaminhado para centros de reciclagem ou de volta ao próprio fabricante. Nesta etapa, o resíduo sólido pode receber a destinação final mais adequada (em casos de substâncias perigosas) ou ser processado para retornar como insumos reciclado de volta ao início do ciclo produtivo.
Este fluxo de retorno e reaproveitamento dos resíduos à produção de novos produtos é uma maneira sustentável de continuar fabricando novos itens sem aumentar a demanda por extração de novas matérias-primas e do gasto energético para obtê-las e transportadas às fábricas.
Muitas grandes empresas, como por exemplo a rede de fast food McDonald's usam o óleo usado de suas fritadeiras para a produção de biodiesel que alimentam os caminhões de sua frota de distribuição de ingredientes para o preparo dos lanches. Já a gigante dos cosméticos, Natura, vem estimulando consumidores finais a devolverem seus resíduos oferecendo um novo produto a cada retorno de cinco embalagens usadas.
Empresas de menor porte podem implementar sistemas de gerenciamento de resíduos internos e encaminhar materiais para cooperativas de catadores ou mesmo comercializá-los para tratadores especializados.
Os consumidores, por sua vez, podem colaborar com a logística reversa entregando seus resíduos em pontos de coleta especializados ou mesmo separando o "lixo seco" para coleta seletiva. Todos podem atuar neste ciclo que reduz os danos à natureza.