A pajelança com seus divinais e cosmogônicos poderes ancestrais revelava em suas ritualísticas simbólico – espirituais que os povos originários da floresta amazônica sofreriam a maldição da tríade horripilante da morte: genocídio, etnocídio e ecocídio.
A sociedade envolvente, aos olhos do estado, e no rancor de sua insolente aversão, promoveu com intensidade o seu mais alto grau descalabro de empáfia, ao consolidar a ascensão burguesa e hegemônica de um modelo de desenvolvimento reacionário e excludente como fonte exclusiva do desenvolvimento econômico nacional, deixando à revelia da história, as populações originárias e tradicionais da Amazônia brasileira.
Neste cenário belicoso não há armistício. O arcabuz modernizou-se, os povos da floresta são desterrados e forçados à migrarem para os grandes centros urbanos. O guerreiro da mata é metamorfoseado em andrajo e nesta derrocada humana os direitos humanos são asfixiados e cerceados sem clemência nem comiseração.
Os humildes são arrebatados pelo ódio, e a violência contra os posseiros não cessa. No conúbio do poder, o desregramento oficial emperra-se diante de espórtulas espúrias, enquanto as mazelas são visivelmente estereotipadas e estigmatizadas de forma exacerbada e evasiva.
O índio, o caboclo, o seringueiro, o quilombola, o posseiro e o ribeirinho, por mais heroica que seja a resistência, as suas forças vão se esmaecendo no espaço e tempo e sendo extenuadas pela prática criminosa da sociedade envolvente.
No escárnio do poder, a luxúria cai na gandaia e vai comemorar a morte em vida, enquanto a realidade verdadeira é ligeiramente escamoteada por quem executa e legisla, mas a nossa fé constitucional continua acreditando nos valores da balança, e sem ela o bem viver estaria condenado ao estrépito da bisbórria e espoliação humana.
O desapossamento da terra e o desalojamento das almas são consequências de um progresso desenvolvimentista doentio que vem alijando as minorias originárias e tradicionais da floresta amazônica, de forma violenta, predatória e hostilizante da vida humana e do seu habitat natural.
Uma mácula nefária insiste em manchar a alma do bem viver. O nefasto mundo, contumaz no seu erro, continua sendo execrável na sua perniciosidade raivosa. A sórdida sociedade envolvente com a sua injuriosa supremacia continua firme e inabalável no malévolo sentido de estancar a liberdade das minorias sociais excludentes e promover o sinal de luto no seu espaço vivido.
A natureza exuberante e seus povos originários e tradicionais da dadivosa e inebriante mata amazônica, continuam sendo alvo de uma segregação repugnante milenar, anunciada tenebrosamente na terra dos velórios florestais.
Marquelino Santana é doutor em geografia, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Percival Farquhar o maior empresário do Brasil: Territórios, Redes e Conflitos na Implantação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM-RO) e na Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (EFSPRG-PR/SC), da Universidade Estadual de Londrina e do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito, também da Universidade Estadual de Londrina.