O atentado a floresta é afrontoso e seus povos originários e tradicionais resistem com honrosa alteridade, desde os mais aviltantes etnocídios históricos, aos ignominiosos e beligerantes atos atuais, cometidos contra essas singulares e plurais coletividades amazônicas.
O escabroso e abominável descalabro cometido em desfavor da natureza divinizante, permite que a insensatez da sociedade envolvente promova ataques asfixiantes a esses povos, culminando na desterritorialização de suas comunidades e constituindo o escárnio da morte em vida.
Yi-Fu Tuan nos alerta que “para que seja habitável, a natureza e a sociedade devem mostrar ordem e apresentar uma relação harmoniosa”, mas a ignávia humana provoca o impropério funesto desta vivificante harmonia planetária. Para o mesmo autor essas “atividades práticas podem parecer arbitrárias e podem ofender os espíritos da natureza”.
A sociedade envolvente com suas ações ludibriantes e criminosas, anuncia o aniquilamento das populações originárias e tradicionais da Amazônia, exaurindo o encadeamento natural com a natureza estetizante e sepultando a ancestralidade ontológica de suas almas.
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Os ataques estereotipados e depreciadores da cultura, afugenta as encantarias florestais, e a prática insensata destes atos burlescos, fere profundamente os modos de vida dessas coletividades, rechaçando com clarividência os valores étnicos e ancestrais de seus povos.
Essa atrocidade perversa e aterrorizante dos crimes ambientais, ceifam valores, afronta o ser, desaloja almas, degreda o lugar, embrutece o espírito, esmaece os modos de vida e anuncia os velórios entrelaçados da Amazônia, do pão e da vida.
Marquelino Santana é doutor em geografia, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Percival Farquhar o maior empresário do Brasil: Territórios, Redes e Conflitos na Implantação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM-RO) e na Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (EFSPRG-PR/SC), da Universidade Estadual de Londrina e do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito, também da Universidade Estadual de Londrina.