Um bebê de 39 semanas morreu na barriga da mãe, que estava em trabalho de parto, no Hospital Regional de São Francisco do Guaporé, a 600 quilômetros de Porto Velho. A família diz que a morte ocorreu porque não havia médico anestesista na unidade para a realização da cesariana. O caso aconteceu em 19 de agosto e foi divulgado pela família ontem.
O governo de Rondônia afirmou que o hospital tem apenas um médico anestesista para 20 plantões diurnos de 12 horas, mas não especificou se havia um profissional presente no momento do parto.
"Você mudou minha vida, meu mundo. Fez o mundo girar ao seu redor. Tudo era você e para você. Como te amei, filha. Cada minuto que esteve dentro da mamãe te amei (sic), você sabia do orgulho que a mamãe sentia da barriga, sentia de você. Até planos para o seu primeiro aninho mamãe já tinha feito. Mas você deixou mamãe sair da maternidade com os braços vazios", diz um trecho do depoimento da mãe.
O UOL entrou em contato com a mãe e o pai, o vendedor Elizeu Nunes, 26. Eles disseram que não estavam em condições emocionais para conceder entrevista. A menina seria o primeiro filho deles, casados há três anos.
Espera por médico durou mais de 10 horas, diz família
A tia do bebê, a professora Elaine Nunes, relatou que Keylyzangela procurou uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em 18 de agosto para uma consulta de rotina do pré-natal. Lá, teria sido informada que bebê estava com os batimentos cardíacos acelerados, indicando que o processo de parto começaria logo.
Keylyzangela procurou no mesmo dia o Hospital Regional de São Francisco do Guaporé por volta das 20h30, já em trabalho de parto. Como não estava sentindo dores e a bolsa não havia estourado, o parto teria de ser feito por cesariana.
"Ela ficou sozinha tomando soro em uma sala, aguardando em observação. A médica obstetra informou que, por não haver um anestesista no hospital, a cirurgia seria feita na manhã seguinte", relatou a tia.
A família diz acreditar que o bebê morreu por volta das 6h, quando a mãe parou de senti-la se mexendo dentro da barriga. A médica anestesista teria chegado à unidade por volta das 7h, e a menina foi retirada sem vida. Ela se chamaria Cecília.
Os parentes reclamam por Keylyzangela não ter recebido encaminhamento para outro hospital estadual, onde haveria um anestesista. O mais próximo fica em Ji-Paraná, a quatro horas de carro. "Daria para ter chegado, porque ela deu entrada às 20h30", diz a tia.
A família afirmou que pretende registrar uma denúncia por negligência na Polícia Civil. "As mães vão chegar ao hospital com o bebê na mesma situação, e a criança será obrigada a esperar a boa vontade do plantonista chegar?", disse Elaine.
Governo alega dificuldade para contratar
Em nota ao UOL, o governo de Rondônia afirmou que havia dois anestesistas no hospital onde a bebê morreu, mas um está se afastou porque está se aposentando. Há dificuldade para contratar mais profissionais, alega o governo.
"Temos edital aberto para contratação de servidores para serviço de obstetrícia e anestesista, porém, deserto [sem candidatos]. Salientamos que, quando a equipe médica de plantão vê a necessidade de realização de procedimento que demanda a presença de anestesista em turno de trabalho no qual não temos esse profissional disponível, o paciente é encaminhado para unidade de referência", disse o governo, sem informar o motivo de Keylyzangela não ter sido transferida a outro hospital.