Um dos gestos mais preciosos em todas as culturas tem sido proibido, nesses tempos de pandemia. Isso porque abraçar tem a ver com envolver e ser envolvido. Cercar e ser cercado, apertar e ser apertado com carinho. Conseguir manter-se junto do coração do outro. Dirá alguém que no abraço trocamos energias, forças, vitalidades. E ainda conseguimos matar a saudade, aquecer o coração, firmar a amizade e aliviar a dor da aventura de viver. Por isso, todos nós temos sofrido com a falta de abraços.
Vi pessoas se abraçarem em meio a sinceros sorrisos, protegidas da neve com imensos casacos e ushankas no inverso ucraniano. A mesma cena se repetia no belo e ensolarado litoral pernambucano – obviamente com roupas de praia. Vi abraços no ambiente de trabalho e nos templos. Nas ruas, quando amigos se encontravam. Na faculdade, quando meus alunos literalmente me erguiam nos braços… Em Miami, La Paz, Cacoal, Paraguai, Fernando de Noronha, Portugal, Porto Velho, Alemanha, Paraty: por onde andei, a mesma emoção, o mesmo poder vital.
Se o abraço entre amigos atrai bem-estar, muito mais o abraço de pai. As pequenas crianças se alegram ao serem abraçadas por ele. Quando se tornam adolescentes e jovens, parece sentirem vergonha desse abraço. Ao se tornarem adultos, vivem com suas metas pessoais e nova família, com pouco tempo para o pai. Alguns se esquecem do aniversário dele, da ceia de Natal com ele, do Dia dos Pais…
Ah, como sinto falta de meu amado painho nessas décadas nas quais ele foi para o céu! Quando ele me abraçava, sentia um misto de segurança e recarga de energia. Como se os braços do pai possuíssem superpoderes e dele emanasse a vontade de continuar a luta da vida. Por isso, nesses dias tão difíceis, se você tem seu pai vivo, seja criativo e invente uma forma de abraçá-lo. Não perca tempo e diga logo o quanto ele é importante para você. Se há algo a ser perdoado, perdoe. Porque abraçar é amar, é renascer, é imortalizar-se no outro. Aproveite bem o abraço de pai.