Uma escola xenófoba afugenta a democracia e fere profundamente os direitos de crianças e adolescentes que sonham alçar voo nas asas da liberdade que vos levam à vitória.
Nos causa abominação e repulsa quando temos que presenciar cenas de abrutamento que insistem em cercear os passos da fábula infantil.
Uma escola de uma das vilas litigantes da região da Ponta do Abunã alojava saberes oriundos das mais diversas camadas sociais da comunidade.
Uma criança afro não faltava a escola e ainda ajudava no orçamento familiar com a sua estimada caixa de picolés. Mas o destino brioso desluziu-se e transformou-se num aviltante ato cometido por um facínora apátrida que de forma tacanha tirou a vida desta criança, deixando a família e a escola em desolação.
O apátrida réu estava à serviço da pátria quando de forma tenebrosa disparou um projétil na cabeça da criança, esfacelando seu cérebro e manchando de vermelho a caixa de picolés e as sandálias remendadas que nunca mais serão vistas na escola.
Com impoluto escárnio, o elemento dizia que o fuzil disparou sem que ele percebesse. No auge de sua incúria e incomplacência, o bisbórria ceifou a vida de um dos três irmãos que viviam sob os cuidados do pai, pois mãe não mais existia.
Escola e família sentiram-se mergulhadas ao fracasso, numa espécie de calvário ou gólgota que alojava as dores de um sentimento mútuo. A família sobreviveu combalida e sucumbida à penúria, enquanto a escola teve que resistir e viver desoladamente sem as suas sandálias remendadas.
Marquelino Santana é doutor em geografia e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir.