Com a epidemia de Covid-19 matando no Brasil já há quatro meses e meio, uma análise de como ondas da doença passaram por diferentes estados mostram uma mudança de tendência na ocorrência de óbitos por habitante. Em um gráfico interativo animado produzindo pelo GLOBO, é possível ver como alguns estados onde a epidemia era mais preocupante no início foram sendo superados por outros em taxa de mortalidade.
Além do fenômeno de interiorização do coronavírus, com a incidência da doença se movendo de centros urbanos grandes para os pequenos, o Brasil viveu um deslocamento regional da mortalidade da epidemia, ao longo de quatro meses. Essa movimentação é visível quando se olham os números mensais de óbitos por habitante registrados pela doença em cada estado.
Enquanto as mortes por Covid-19 impactaram sobretudo as regiões Sudeste e Norte do país em abril e maio, em junho e julho o coronavírus matou acentuadamente no Nordeste e no Centro-Oeste. O Sul é a região com menores índices per capita, mas a única onde a mortalidade relativa pelo vírus subiu consistentemente em todos os meses.
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Em cada região, há exceções individuais entre as unidades da federação. No Nordeste, o Ceará, que viveu uma onda intensa de epidemia antes dos vizinhos, viu uma desaceleração em julho. No Norte, Roraima viu a incidência crescer muito nos últimos dois meses, enquanto na região outros estados já tinham visto a pior situação em maio.
Ontem, após registrar 58.271 diagnósticos confirmados de coronavírus em um único dia, o Brasil chegou à marca de 2.613.789 casos. Os números foram levantados pelo consórcio de veículos de imprensa formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, que reúne informações das secretarias estaduais de Saúde.
O número acumulado de mortes atribuídas ao coronavírus no país é de 91.377, com 1.189 tendo sido notificadas no dia de ontem.
A média semanal de mortes por Covid-19 registradas no Brasil foi de 1.024 nesta semana. As diferenças entre estados fazem com que a média nacional permaneça em torno de mil já há dois meses, sem dar sinal claro de aumento ou queda.
Do meio para o final de julho, o Nordeste como um todo teve redução de um quarto no número diário de mortes, mas ainda com taxas relativamente altas e interiorização acentuada do vírus.
Nos estados que abrigam os dois maiores centros urbanos do país, Rio de Janeiro e São Paulo, já há 3 semanas o número de mortos permanece estável, e custa a ceder.
Enquando a capital paulista mostra queda seguida de estabilidade no número de mortes, cidades grandes do interior, sobretudo Campinas, ainda têm curva acentuada no crescimento das mortes por semana.
Surto errático
A tendência errática que alguns estados exibem na dinâmica da epidemia não é fruto de fatores só geográficos, mas também sociais.
— Existe uma parte da população que ainda está tentando se proteger, e outra que está tendo que trabalhar e voltou a batalhar pegando condução — afirma o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP. — Tem gente que ainda está evitando bares e reuniões, tem gente que não, e já está se expondo cada vez mais.
Apesar da relativa estabilidade no número de mortes em escala nacional, a última quinzena de julho teve um dado preocupante: o aumento na média móvel de casos de Covid-19 (os não letais), já se aproximando de média de 50 mil por dia.
Não está claro se isso é artifício do melhor índice de testagem no país agora, com mais casos leves ganhando diagnóstico. Se for outro o motivo, esse incremento de casos pode se refletir no número de óbitos dentro de algumas semanas.