Porto Velho, RONDÔNIA – Ainda sem um arcabouço jurídico capaz de esclarecer a celeridade dada pelas Curadorias Ambientais, tanto do Estado quanto da União, ao projeto de revitalização do Complexo Ferroviário, historiadores e profissionais não vinculados a governos, tentam encontrar uma explicação mais adequada ao suposto desmonte do patrimônio ferroviário local.
Segundo disseram esses interlocutores, ‘muita coisas cabeludas, como o roubo de peças das oficinas e das locomotivas seqüestradas para servirem de bibelôs no Parque Circuito e até numa praça fora de Rondônia, não foram esclarecidas nem, mesmo pelas ações do Ministério Público Federal e Polícia Federal’. Numa dessas ações, um integrante da Associação dos Ex-Empregados da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (ASFEMAM), não teria explicado nada ou quase quanto ao furto de trilhos, supostamente, vendidos a ferros-velhos.
Quanto a métodos de construção moderna – não de revitalização – de lojas de departamentos, bares, lanchonetes e um suposto mini-shopping, numa cópia mal acabada das Docas do Pará, no lugar de galpões, oficinas e do museu em suas linhas originais, ‘o que poderá ser vir, antes do final da gestão tucana (em 31.12.20), os métodos usados pela Construtora Santo Antônio Energia (CSA-E), ainda poderão ser revistos; se ainda assim entender o Tribunal Regional Federal (TRF-1), do Distrito Federal, garante a acadêmica Francisca Souza da Silva, 57.
Para o arquiteto Luís Leite, da Associação de Amigos da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (AMMA), que aceitou falar sobre o assunto em sua casa ao NEWSRONDÔNIA, ‘as intervenções de governos e das Curadorias Ambientais, aos olhos da Lei do Tombamento do Patrimônio Histórico Nacional, mesmo as subscritas por Getúlio Vargas em 1937, ainda podem ser revertidas em favor da conservação e preservação da secular Ferrovia do Diabo’.
Ele aponta erros grassos nas obras desde a construção de taludes (muros de contenção), das operações de retirada de peças do que restou de engrenagens, materiais e equipamentos a partir de antes e depois da enchente histórica do Rio Madeira, em 2014’.
Francisca Silva, Luís Leite e Francisco das Chagas, não só esses interlocutores, ‘não somos nem seremos os únicos a desconfiar do tratamento ora dado ao acervo catalogado e/ou das peças dos lotes desaparecidos misteriosamente’. Eles apontam, ainda, numa reunião no Teatro Banzeiros, em 2018, um gestor público, admitiu, contudo, que ‘eu e meu pai, guardamos em nossa casa parte dos bens do acervo Museu Ferroviário, mas, nenhum diretor da Associação dos Ferroviários os interpelou para que a devolução aconteça.
Assim como o tal servidor disse ser possuidor de bens subtraídos do acervo do Museu Ferroviário, os ferroviários puxados pelo Presidente da ASFEMAM, José Bispo, têm o conhecimento de que muitas peças históricas retiradas ilegalmente do museu, das oficinas, dos galpões e das locomotivas ‘recheiam ante-salas e mezaninos de ex-barões da borracha, historiadores, pesquisadores, empresários, políticos e até ateliês de escultores e agitadores culturais.
Sobre o assunto, José Bispo de Morais, já confessava aos NEWSRONDÔNIA, em 2017, ‘não temos força para obrigar os barões ou qualquer gente miúda a entregar, por livre e espontânea vontade, as peças e bens do acervo do Museu ou do conjunto das locomotivas saqueadas’. Ele disse, à época, que, ‘não adiantaram as campanhas pela devolução que fizemos’.
Enfim, sobre o roubo de peças ou sobre as obras no largo do passeio do Complexo Ferroviário e adjacências, a cargo da Construtora Santo Antônio Energia (CSA-E), Luís Leite afirmou que, ‘até aqui, faltou empenho das autoridades envolvidas no processo, já que a decisão do Desembargador Prudente, do TRF-1 (Distrito Federal), não foi considerada por pessoas e órgãos regionais que se diziam terem vindos para cá, à época, ajudar a manter em pé o patrimônio ferroviário, desde a Vila dos Ferroviários, sobretudo em suas linhas originais, como a reconstrução de até oito quilômetros de trilhos de Porto Velho à Vila de Santo Antônio’.
Ele contesta, ainda, a forma dada pelos gestores públicos pela não manutenção dos traços originais das oficinas, galpões, rotatórias, estação central dos trens, seus banheiros, toaletes, sinaleiros, sirene (esta mudou o sincronismo dos apitos), além das luminárias e candeeiros vindos do Velho e do Continente (Europa) e dos Estados Unidos.
– Agora, tudo isso, dará lugar a luzes de LED, passarelas e calçadões em nome do modernismo improvisado e copiado, em parte, das obras marajoaras a partir de Belém do Pará, arrematou Francisca Souza da Silva.