Porto Velho, RO – Não é de hoje que peças históricas furtadas, misteriosamente, da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM), além de ainda não terem sido encontradas, tem-se a notícia de que várias delas enfeitariam casas, escritórios e ateliês em Rondônia e fora deste Estado amazônico.
Protegida por uma lei baixada por Getúlio Vargas de 1937 e contemplada por outras de caráter sucessório, ‘secular ‘Ferrovia do Diabo’, desde o século passado, vem sendo agredida e descaracterizada por aqueles que a usariam como trampolim político e cultural para se darem bem em setores dos governos’, denuncia a acadêmica Francisca Souza da Silva, 57, filha e neta de ferroviários.
De lá prá cá, mesmo com os furtos inconfessáveis de peças, dormentes, sinaleiros, induzidos e até luminárias subtraídas dos postes de iluminação, ‘a EFMM continua sendo vitimizada por ações de governos, governantes, supostos historiadores e amantes da cultura ferroviária’, aduziu à senhora Souza da Silva.
– Seriam ações de desmontes crimonosas, com requintes de descaracterização suprema de barracões, galpões (como o que funcionou o C-BEC), oficinas e da plataforma giradora das locomotivas, tão cobiçados por conhecidos ferros-velhos e construtores de plantão, ressaltou o arquiteto e pesquisador Luís Leite, presidente da Associação de Amigos da Madeira Mamoré (AMMA).
Mesmo protegida por leis federais e estaduais, a Madeira Mamoré não tem podido resistir ao longo dos tempos quanto à sua conservação e preservação em suas linhas originais. Atualmente, ‘o que se vê é um grande canteiro responsável pela construção de novos módulos que darão lugar a um modelo desprezível de shopping-center’, desabafa o dirigente da entidade – a única a levar à Justiça e aos órgãos de controle os que ousem atentar com a cultura ferroviária.
Em passant, atualmente o que se vê desde a nacionalização da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM), passando pela intervenção do empreendimento atribuído a então Major Aluízio Ferreira – no período de sua governança soube-se que teria expulsado os ingleses e que por essa questão, contratara barbadianos que habitavam o Barbadian Town, que viviam excluídos no antigo bairro Alto do Bode, por falarem inglês, tentou tocar os negócios da ferrovia – ‘é que, em breve, em vez do trem circulando sob os trilhos até à Vila Candelária – se verá no lugar dos galpões, oficinas e do museu, ‘será uma verdadeira passarela de bares, restaurantes e lojas de departamento’, atesta Luís Leite.
Do ponto de visto histórico, a Madeira Mamoré ainda significa o maior ícone da história do povo porto-velhense e dos nativos rondonienses, a ponto desses a eternizarem como ‘verdadeiro marco de resistência à presença de malfeitores que por aqui faziam riqueza à custa da exploração da mão de obra cabocla, afro e índio-descendentes’, sentencia a acadêmica Francisca Souza da Silva.
Da não manutenção dos traços originais da Ferrovia por força da falta de políticas públicas voltadas a manter de pé todos os bens municipais, estaduais e nacionais tombados em Rondônia e, especialmente na Capital Porto Velho, ‘conta-se nas estrelas os danos e maldades causados ao patrimônio rondoniense, aos entes artísticos e arquitetônicos sob a égide de negacionistas da cultura regional, a exemplo das usinas hidrelétricas e da gestão dada ao Projeto de Revitalização da EFMM, que deve se arrastar, no mínimo, 50 anos’, atesta este Repórter indignado, inclusive, com a atuação das Curadorias Ambientais, dos artistas, pesquisadores, escritores, historiadores e da gente que não integra as alcovas (?) dos bolsões endinheirados da política nativa e nacional.
Francisca Souza da Silva, Luís Leite e tantos outros nativos amazônicos lembram a linha que ligou a Estação dos Trens, em Porto Velho, a Abunã e desta para Guajará-Mirim, na fronteira bi-nacional entre Brasil e Bolívia, ‘a real motivação da construção da Madeira Mamoré’. Efetivamente, por decisão do Desembargador Souza Prudente, do TRF-1, do Distrito Federal – deixada de não ser cumprida por representantes da União, do Estado e do Município – possibilitaria, à época, a construção de até oito quilômetros de linha férrea partindo de Porto Velho à Vila Candelária.