A obra trata sobre a ideologia fundamentalista que se desenvolveu no ambiente evangélico norte-americano, no limiar do século XX, e que foi transportada para o Brasil, por missionários, durante as décadas seguintes, colocando como exemplo a Igreja Batista Regular do Brasil, com abordagem de alguns escritos de Karl Marx e Max Weber e também contribuições críticas de Juan Luís e John Plamenatz.
Nesta obra, deparamos com as experiências religiosas para renovação e libertação, como pietismo e puritanismo, converteram-se em ideologias e conjuntos de preconceitos, e serviram de base para a criação de instituições que exercem controle social sobre multidões de adeptos; a hermenêutica bíblica foi aprisionada por uma concepção determinista da história da humanidade, onde o fundamentalismo foi exportado pela obra missionária evangélica norte-americana, para todas as regiões e povos que esse tipo de missionários alcançou como propagação do “american way of life” e como religião civil dos Estados Unidos, rotulada de “destino manifesto”, a qual consistiu em legitimar a superioridade norte-americana sobre os povos evangelizados.
O fundamentalismo promoveu e continua a promover a rejeição das culturas autóctones e a desencarnação da mensagem cristã nas sociedades onde ele se instalaJustificamos nossa opção pelo Mensageiro da Paz, embora não seja a única publicação oficial das Assembleias de Deus, tem facilitado o acesso por sua digitalização e disponibilização na internet, apresenta as falas de diversos pastores que foram importantes para a formação da identidade assembleiana em solo brasileiro.
A relação entre a dimensão do culto e a dimensão sociopolítica da fé cristã, vivenciada ao longo da história das Assembleias de Deus brasileiras, representa um desafio para todas as Igrejas Portanto, eis o título de nossa tese: Política, púlpito e poder, onde a política não se restringe aqui ao partidarismo, mas às relações antropológicas que se constroem em uma comunidade política sujeita a conflitos e acordos. O púlpito deve ser lido aqui como metáfora do culto cristão, não apenas no seu momento de pregação bíblica, mas de experiências diversas que relacionam pastores e leigos no mesmo altar do templo, ora compartilhando, ora disputando o púlpito literal.
Ainda sobre a visão de poder, por sua vez, percorre constantemente as relações entre os seres humanos e a articulação dessas mesmas relações com o sagrado, pois o poder interfere no binômio púlpito-política, como uma palavra que pode suscitar ambiguidades na vida eclesial e social, pois, com essa expressão linguística, podem-se considerar os autoritarismos dos líderes religiosos e dos governantes do Estado.
Em se tratando de poder da salvação e servidor de Jesus Cristo, é possível afirmar a crença nos poderes carismáticos como cura de enfermidades, exorcismos e a oração em línguas estranhas (glossolalia) e deste modo, colocar o poder como relação, representável no púlpito (culto) e na política. O púlpito manifesta relações de poder (humano ou divino) bem como pode orientar ou desmobilizar ações políticas. A política, por sua vez, faz-se presente tanto a partir de uma ótica do púlpito (culto) quanto de uma antropologia de busca por poder.
Consideraremos a tensa relação entre culto e política à luz do problema e do enfrentamento do dualismo antropológico que penetrou em muitas confissões e denominações cristãs no contexto em que vivemos e aí percebendo, o dualismo antropológico, conforme veremos ao longo da tese, como uma rígida estrutura mental que opõe as dimensões da realidade e a relação entre sagrado e profano como exemplo mais básico e significativo para nosso estudo.
Então, como ser cristão, articulando, ao mesmo tempo e na mesma fé, o ser do culto e o ser político, não seria exagerando que o que possivelmente está por trás da crescente participação das Assembleias na esfera da política partidária em nosso país seja uma grande disputa pelo poder, na qual as duas instituições citadas em âmbito nacional protagonizam uma luta ferrenha por visibilidade.