“And the Oscar goes to…”
Essa famosa frase, dita pelos inúmeros artistas-apresentadores nas cerimônias do maior prêmio do cinema mundial, deverá ser dita, em 2020, para alguns dos filmes aqui listados por este pequeno dublê de crítico. Não apenas eu, mas muitos dos sites e canais de Youtube incluíram estes filmes em quase todas as suas listas de melhores do ano no cinema.
De qualquer forma, assim como fiz com a lista dos “Piores do Ano”, há alguns dias, ainda fica o aviso de “é a minha opinião e você não é obrigado(a) a concordar com ela”.
Agora vamos aos filmes que encheram nossos olhos e mexeram com nossos nervos e corações, causando as mais diversas formas de sentimentos e emoções no ano que se encerra, seja pela sua excelência no roteiro, seja pela sua brilhante condução, seja pelas interpretações magistrais dos atores ou até mesmo pela ‘surpresa’ que causa em seus atos finais, alguns com mensagens pesadas e muito bem apropriadas para o momento conturbado que o mundo atravessa.
Lembrado que, dessa vez, vou falar apenas dos filmes que eu consegui assistir até este dia 31 de dezembro, mas farei menções honrosas, ao final, daqueles que não assisti, mas que ouvi falar muito, muito bem.
NÓS
Se o jovem diretor negro Jordan Peele já tinha causado alvoroço com seu excelente “Corra!” (2017), e ainda assim o povo chegou a se questionar “Será que ele consegue repetir a dose?”, dessa vez ele não apenas surpreendeu, mas deixou a gente com aquela sensação de “Putaquiospariu! Que porra foi esta?”
Um filme com inúmeras mensagens subliminares e um leve toque de ‘tapa na cara da sociedade’ que, novamente, utiliza um elenco majoritariamente afrodescendente para mostrar, em um novo terror-inteligente, como ainda existe um abismo social e moral entre os mais ricos e os ditos ‘marginalizados’.
Não que dessa vez o carro-chefe seja uma crítica sobre o preconceito racial, mas sobre poder financeiro de famílias em contraparte ao sofrimento “enlouquecedor” de famílias literalmente vivendo num ‘submundo’, bem embaixo de nossos pés e que, quando vêm à tona, pode ser destruidor.
E o elenco se sai muito bem, alguns tão bons em seus personagens que até um deles, por ser tão ‘medroso’ e sem noção, nos causa irritação. Mas ninguém supera o talento efervescente de Lupita Nyong’o que, como protagonista, dá um show à parte tanto como heroína como vilã (???).
E já aviso logo: Se você não assistiu ainda, prepare-se para, depois da experiência, ficar algum tempo em estado de choque, porque neste filme o “plot twist” é realmente intrigante. Portanto, acompanhe com atenção o filme desde o primeiro minuto.
HOMEM ARANHA NO ARANHAVERSO
Depois se tornar a maior produtora de sucessos de super-heróis no cinema, a Marvel (dessa vez pela Sony) decide levar às telonas uma versão animada dos quadrinhos, onde existe um multiverso de Aranha’s, e neste o principal é um jovem adolescente negro chamado Miles Morales, que se encontra com Peter Parker e outras versões do aracnídeo.
Uma delas é em versão mangá, outra em estilo dos desenhos do universo do Pernalonga. E se formos considerar a tecnologia que, praticamente, pega os rascunhos destinados às HQ’s e os anima de forma a permitir uma imersão perfeita de quem é fã dos gibis, a experiência é deliciosa.
ALITA – ANJO DE COMBATE
Esse foi um dos primeiros que assisti e comentei no Facebook em 2019, já na estreia, e naquele mês eu já tinha ficado extasiado e cheguei a dizer que certamente estaria na lista dos melhores do ano. Acertei na mosca, embora o filme não tenha obtido tanta publicidade, não foi tão comentado e nem rendeu uma bilheteria estrondosa.
Mas para quem curte uma versão live action de sucessos dos mangás, com muitos efeitos especiais, em futuros distópicos e batalhas selvagens, essa foi, com certeza, uma boa pedida.
DRAGON BALL SUPER – BROLY
O primeiro da lista que vem carregado com todo meu fanboyzismo, pois quem é fã do universo criado por Akira Toriyama (Dragon Ball, Dragon Ball Z, Dragon Ball GT, Dragon Ball Super…) vai entender perfeitamente que quando se coloca, finalmente, num filme totalmente canônico, o personagem Broly, a porradaria vai comer solta e com muito poder incluído, absurdo demais até para Goku, Vegeta e companhia.
Valeu muito a pena ir ao cinema ver de perto as lutas e ouvir o som dos socos, pontapés e rajadas de poder extremo no volume máximo de um Dolby Digital Cinema.
AD ASTRA
Este filme não possui a perfeição de um “Interestelar” (2014) ou de um “Gravidade” (2013), mas vamos combinar que tem um roteiro bem interessante e uma fotografia que enche os olhos.
E Brad Pitt manda super bem no papel de um astronauta que não demonstra sentimentos, mas que ao ser incluído numa missão para ‘resgatar’ o pai dele, que ele acreditava estar morto por décadas, tudo muda.
JOHN WICK 3 – PARABELLUM
Mais uma franquia que se firmou nos cinemas de tiros e “tebêife-tebêife” desenfreados e consolidou o nome de Keanu Reeves como o mais querido do cinema atual, não apenas pela sua simplicidade e demonstração de respeito aos fãs, mas pela sua total aplicação nos papéis que desempenha.
“Parabellum” é a terceira parte de uma história que mostrou como não se deve roubar o carro e mexer com o cachorrinho de um cara que é chamado de “Bicho Papão” até pelos mais poderosos e temidos mafiosos do mundo.
CREED 2
Após consolidar seu nome e talento como o vilão Killmonger em “Pantera Negra” (2018), o ator Michal B. Jordan repete a dose de sucesso de “Creed – Nascido Para Lutar” (2015) ao lado de Sylvester Stallone no filme que mostra o reencontro de Rocky Balboa com Ivan Drago (Dolph Lundgren), o cara que, há 34 anos, assassinou Apollo Creed (Carl Weathers) nos ringues, em uma luta de apresentação nos EUA, em “Rocky 4” (1985).
Mas a luta não é entre Balboa e Drago, mas sim entre Adonis e o filho de Drago. “O seu pai matou o meu, agora é tu que vai pagar a conta”.
Pode até parecer uma forçada de barra, mas o resultado até que não foi apelativo demais e agradou, principalmente, aos fãs mais antigos do bom e velho Rocky, o Campeão do Povo.
OS JOVENS TITÃS EM AÇÃO – NOS CINEMAS
Se você, assim como eu, não cansa de dar muitas risadas com a turma liderada por Robin (Ravena, Stelar, Ciborgue e Mutano) nas animações da tevê, deve ter vibrado ainda mais com o longa que foi aos cinemas na primeira metade de 2019.
A fórmula do humor infantil (chega a lembrar o estilo “Os Trapalhões”) voltou a funcionar nas telonas, e agradou até mesmo os marvetes, dada a breve e hilária (mas respeitosa) homenagem da DC ao mestre Stan Lee. E as tiradas e referências aos filmes de heróis são impagáveis! Quem não se mijou de rir quando os Titãs insistiam em chamar o Exterminador (Slade Wilson) de Deadpool? Foi diversão para toda a família.
ERA UMA VEZ EM… HOLLYWOOD
Quando se fala em filme de Quentin Tarantino a gente pensa logo “Vem coisa boa por aí”. O diretor já criou obras primas como “Pulp Fiction – Tempo de Violência” (1994), “Kill Bill” 1 e 2 (2003 – 2004) e, neste ano, trouxe de volta o estilo ‘paródia da vida real’ que o consagrou no insuperável “Bastardos Inglórios” (2009). Se antes ele brincou com o nazismo no filme em que Hitler é fuzilado por americanos ao final, aqui ele faz uma análise ultra paralela do famoso assassinato da atriz Sharon Tate por membros da Família Manson (1969).
Não tem assassinato da atriz ao final, embora o filme gire em torno de algo que aconteceu na vida real. O cenário aqui é sobre os bastidores do cinema em Hollywood, com as glórias e decadências de astros e dublês, tudo magnificamente apresentado por atuações soberbas de Brad Pitt, Leonardo di Caprio e um elenco poderoso. Aliás, não se surpreenda se você ver um ator muito parecido com o Bruce Lee, e muito menos fique chocado com ele levando uma surra no set de um dublê, afinal de contas estamos falando de um filme de Tarantino, ok?
BACURAU
Em tempos que os brasileiros se veem debatendo temas como violência descabida e liberação do porte de armas, este filme chegou para ampliar ainda mais o discurso. E não porque se passa numa cidade grande ou tem um cenário dominado por políticos de ultradireita, mas porque em Bacurau, um pequeno vilarejo que sequer existe no mapa, é onde a carnificina acontece.
Aqui vemos um reflexo da temática de intolerância com os menos favorecidos, tão evidente nos discursos de Donald Trump (ou de seu guacheba brasileiro… melhor nem mencionar o nome…), que fez um grupo de malucos vir aos confins do Nordeste brasileiro ‘caçar humanos’, como se fossem bichos, por pura diversão. Algo que a gente já viu nos filmes da franquia “Uma Noite de Crime”. Só que aqui também tem gente pobre – e analfabeta – que sabe se defender, e, convenhamos, sabe ser ainda mais selvagem.
Ah, se você tem intolerância à selvageria – inclusive com cabeças explodidas ou decapitadas – não assista este filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que tem ainda a magnífica Sônia Braga no elenco.
DOIS PAPAS
Este assisti e comentei recentemente, no meu perfil do Facebook. Um filmaço original Netflix que conta o início (e o fim, com a renúncia) do papado de Bento XVI (o alemão Joseph Ratzinger) e como começou o papado de Francisco I (o argentino Jorge Bergoglio).
O diretor brasileiro Fernando Meirelles conduz com perfeição esta película formidável que tem, no elenco, Anthony Hopkins, no alto dos seus 80 anos de vida, ainda genial, e dessa vez acompanhado de perto pelo excelente Jonathan Pryce, o Alto Pardal de Game Of Thrones.
HISTÓRIA DE UM CASAMENTO
E por falar em Netflix, este ano a maior plataforma de streaming do planeta (enquanto não chega a Disney + por aqui…) emplacou excelentes filmes e alguns deles poderão estar nas listas de premiações do Oscar 2020. Assim como foi “Roma” (2018), mais um exemplo disso é o filme “História de Um Casamento”, do diretor Noah Baumbach, que traz a temática sobre os traumas muito comuns nas separações de casais, principalmente se nesses relacionamentos existir a figura de filho(s).
Quem diria que um dia eu veria a Scarlett Johansson em atuações tão notáveis? Ela dá um banho e mostra que nem só de Viúva Negra (“Vingadores”) se constrói uma legião de admiradores. E o que dizer de Adam Driver? Meu nariz torcido com ele – quando o vi pela primeira vez, sendo o vilão por baixo do capacete do irritante e insosso Kylo Ren (da nova trilogia Star Wars) – foi facilmente esquecido tão logo ele deu aquele show de interpretação no estupendo “Infiltrado na Klan” (2018). Mas agora ele se supera, ele nos faz ter a certeza de que esse cara alto, de cabelos nunca cortados, é muito mais do que aparenta. Ele enche a tela, ele emociona, comove e faz a gente pagar – com juros – todas as críticas ao tosco filho de Han Solo e a Princesa Léia. Simplesmente magistral.
O IRLANDÊS
E já que estamos no cenário altamente produtivo da Netflix, agora chegou a vez daquele que, para muitos, é o melhor filme do ano. Não sei se concordo, mas que merece o meu TOP 4, com certeza merece. Mais uma obra prima de Martin Scorcese, que trouxe mais um gigantesco ensaio sobre o mundo da máfia, assim como já tinha feito em “Os Bons Companheiros” (1990), e novamente com Joe Pesci e Robert de Niro no elenco, mas agora trazendo o mito Al Pacino. São quase quatro horas de duração de um filme que te prende no sofá, sem querer levantar nem para ir ao banheiro. Se bem que, por ser um filme da Netflix, você pode pausá-lo… mas ainda assim vai ter dificuldades de fazê-lo.
Este ano Scorsese causou furor nas redes sociais ao dizer que os filmes de super heróis da Marvel, que lotaram as salas de cinema no mundo inteiro, semanas após semanas, ano após ano, e se acostumaram com lucros acima do 1 bilhão de dólares, “Não são cinema, são como parques temáticos”. Muita gente ficou revoltada com sua opinião, mas aí ele vem depois e nos traz esse legítimo “cala a boca” que adoramos tomar.
VINGADORES – ULTIMATO
Por falar em filmes da Marvel, não tenho mais nem adjetivos para descrever este que é, certamente, o maior filme de super heróis de toda a história do cinema. Um marco definitivo para um universo cinematográfico que começou lá em 2008, com o primeiro filme do Homem de Ferro. Foram mais de 10 anos, com inúmeros filmes que mostraram os maiores (e até desconhecidos) heróis e vilões da Marvel.
Uma verdadeira epopeia formada por nomes conhecidos da infância de várias gerações, como Thor, Capitão América, Hulk, Viúva Negra, Gavião Arqueiro, Nick Fury, Homem Formiga, Homem Aranha, Doutor Estranho, Guardiões da Galáxia… e todos eles com um objetivo que se tornou único: enfrentar a ameaça intergaláctica chamada Thanos, o Titã Louco que chegou a dizimar metade dos seres vivos do universo.
E que se dane quem não gostou dos fan service’s ou da adaptação muitas vezes diferente do que se conhece dos quadrinhos. O filme não apenas se tornou a maior bilheteria de todos os tempos (apesar da tosca estratégia de o colocar em cartaz novamente com, diga-se de passagem, muito mal feitas cenas extras), mas também continua sendo o que as pessoas mais assistem, repetidamente, sem enjoar, porque quem é fã de super herói, quem gosta de uma boa aventura dos quadrinhos, quer mesmo é diversão e vibração em toda sua essência. Não é isso que produz “um parque temático”, mestre Scorcese?
PARASITA
Cogitado para ser um dos favoritos na premiação do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “Parasita” sequer estreou no Brasil, mas nós, cinéfilos, utilizamos todos os recursos da internet para ter acesso às obras que por aqui não chegaram ainda, certo? E a julgar pelo incessante e crescente cenário de rasgados elogios (da crítica especializada) à esta obra sul coreana, não dava pra ficar de fora.
Mais um primoroso ensaio sobre as diferenças entre as classes sociais, da mais rica e ingênua família, às mais pobres e ‘espertas’ que vivem, literalmente, nos porões da sociedade.
Envolvente, e com um último ato que, se não surpreende, deixa a gente com a sensação de que há coisas muito mais valiosas no mundo, e ‘sobrevivência’, mesmo que seja a todo custo, até mesmo com privação de liberdade, é uma delas.
CORINGA
Ah, sim… eu não poderia abandonar o meu lado DCnauta neste momento, e não apenas por ser fã, mas por até agora estar completamente estupefato com este que, na minha primeira análise (no Facebook), eu intitulei como “O FILME QUE NÃO QUERÍAMOS, MAS PRECISÁVAMOS”.
Uma obra que teve apenas um trailer, que não mostrava nada de ação, de coisa fantástica, de nada que pudesse ser referenciado a uma suposta biografia do maior inimigo do Batman e um dos mais cruéis psicopatas dos quadrinhos. Logo que foi anunciado, ainda em 2018, “Coringa” causou certa estranheza e olhares desconfiados, pois tinha tudo para ser um daqueles filmes que ninguém queria (ou pretendia) assistir, já que seria uma ‘estória’ de origem, com baixíssimo orçamento, que trazia Todd Phillips no comando, um reconhecido diretor de comédias.
No entanto, com o passar dos meses a situação mudou, e após sua inclusão no 76º Festival Internacional de Cinema de Veneza, em 31 de agosto de 2019, onde recebeu o Leão de Ouro e, ao final de sua apresentação, foi aplaudido de pé por oito minutos ininterruptos, o filme foi totalmente ‘hypado’. Virou assunto principal nas rodas de cinéfilos, nerd’s e jornalistas mundo afora. Chegou a ser especulado que, por ter cenas de violência explícita e praticadas por um ‘doido varrido’, poderia influenciar outros malucos a cometerem atrocidades na vida real, e que deixou em alerta até mesmo as autoridades ligadas à segurança pública. Isso tudo foi o suficiente para deixar milhões de fãs ansiosos pela estreia oficial nos cinemas, o que aconteceu no dia 3 de outubro, e mesmo tendo uma classificação “18 anos” (para maiores), acabou se tornando o filme mais lucrativo da história, já que sua produção custou “apenas” US$ 62,5 milhões e arrecadou, em bilheterias, mais de U$ 1 bilhão.
É uma obra fenomenal sobre a vida despedaçada de uma pessoa que possui um distúrbio psicológico que o faz dar gargalhadas mesmo em momentos de tristeza e decepção. Mostra, sem qualquer piedade, um cara totalmente fodido, que luta para sobreviver, para alcançar seus sonhos, mesmo vivendo em completa miséria, desacreditado e desrespeitado por tudo e por todos.
E, por Deus! Que atuação primorosa de Joaquim Phoenix, um ator muitas vezes esquecido pela indústria cinematográfica, mas que decidiu, literalmente, ‘vestir’ o personagem. Tanto que, para isso, chegou a perder 25 quilos. E nos entrega aquela que seja, provavelmente, sua melhor performance, que nos faz ter a certeza de que, quando um artista quer, ele é o melhor para os seus fãs. E ele foi, com louvor! E ouso dizer que, se ele não ganhar o Oscar 2020 de Melhor Ator, ficará atestada toda a já controversa identidade moral da Academia.
E por isso mesmo saí do cinema com a certeza de que o filme fez exatamente o que propõe em seu subtítulo: “Eu coloquei um sorriso no meu rosto”.
MENÇÕES HONROSAS
O FAROL (terror), A VIDA INVISÍVEL (nacional), FORD VS FERRARI, ENTRE FACAS E SEGREDOS, TOY STORY 4 (animação) e ROCKETMAN (uma biografia de Elton John).
*Rondineli Gonzalez é jornalista, cinéfilo, nerd e dublê de crítico de cinema.