"Dia do médico", "dia dos professores", "dia do biólogo" — datas como estas são criadas com o objetivo de prestar homenagem a profissionais cujos trabalhos são importantes e positivos para a sociedade.
Agora, os deputados estaduais do Amazonas resolveram inovar negativamente. No dia 16 de outubro, aprovaram o Projeto de Lei 305/2019, de autoria de Roberto Cidade (PV-AM), que institui o "Dia Estadual do Caçador, Atirador e Colecionador". É a primeira vez que o Brasil cria uma data para celebrar a prática de um crime.
Digo crime porque, salvo raras exceções (todas elas questionáveis em seus aspectos éticos e legais), a caça continua sendo proibida no Brasil. O projeto é, em resumo, um elogio à violência.
A retórica da força e do justiçamento vem ganhando força recentemente. As vidas humanas e animais são tratadas com descaso e indiferença crescentes. Celebrar aqueles que se divertem matando e colecionando armas é um incentivo à cultura do ódio e do extermínio.
Chama atenção que o autor do PL seja do Partido Verde, agremiação que, em tese, deveria primar pelo respeito à vida e ao meio ambiente. Ao enaltecer a posse de armas e a prática de assassinar seres sencientes, o deputado Cidade joga na lama o significado da legenda à qual pertence.
Cabe agora ao Governador Wilson Lima vetar o Projeto de Lei. Em um momento tão delicado, em que assistimos ao avanço da degradação ambiental — o desmatamento do bioma amazônico continua batendo recordes e o garimpo avança sobre as terras indígenas –, sancionar a lei que exalta os entusiastas da morte e da crueldade tem um forte e preocupante significado.