Já se passaram quase quarenta anos desde “Rambo – Programado Para Matar” e, agora, diferente do que aconteceu com o primeiro filme, a crítica tem massacrado este que, segundo alguns, seria o fim real de uma franquia que já não tinha muito a oferecer.
E se não bastassem as críticas pesadas por conta de um filme com muita (mas muita) violência explícita (uma ode aos amantes do estilo ‘gore’), muito tem se questionado o enredo do filme, que supostamente estaria ‘estereotipando’ os mexicanos como meros traficantes de drogas e de mulheres, sem nenhum traço de bondade e como se fossem verdadeiros servos de satanás na Terra.
De acordo com o que tenho ouvido em alguns vídeos e lido em alguns sites especializados em cinema, o que é contado neste filme – que estreou há uma semana nas telonas – seria exatamente uma apologia a tudo o que o presidente Donald Trump fala desde que assumiu o governo norte-americano. Uma verdadeira xenofobia aos ‘chicanos’ em forma de película.
Ora, nunca vi tanto absurdo dito e escrito junto!
Qualquer pessoa que acompanha a trajetória de John Rambo desde o primeiro filme, de 1982, sabe que se trata de uma obra baseada num livro chamado “First Blood”, de David Morrel, de 1972. Ou seja: nessa época, quando o livro foi lançado, talvez Trump ainda seja uma criança!
E se for assim, o que falar de filmes como “Sicário – Terra de Ninguém” e sua continuação, “Sicário – Dia do Soldado”, ambos filmes que fizeram muito sucesso, receberam boas notas da crítica e retratam exatamente a realidade dos brutais e implacáveis cartéis mexicanos?
A franquia “Rambo” se criou exatamente lidando com temas polêmicos, todos diretamente ligados às guerras que assolaram o mundo e que mataram milhões de soldados, civis, terroristas, mercenários, milicianos e… (adivinhem)… membros de cartéis!
Então o que tem de tão errado agora em um cara, até hoje atormentado pelos horrores vividos em tantas guerras, que perdeu todos que conhecia e amava, e que hoje estaria apenas tentando ter uma vida comum ao lado de pessoas que seriam a coisa mais próxima daquilo que se conhece como ‘família’, querer vingança? Só por que os vilões da vez são ‘mexicanos’? Ah, que dó, né? Tadinhos deles…
Só me acordem, contudo, quando caírem na realidade de que além deste filme ser uma porra de uma ficção, também mexe com feridas da vida real. Feridas essas que, para muitos, sejam ex-heróis de guerra que foram desprezados e nunca receberam o respeito de seus compatriotas (Rambo – Programado Para Matar), sejam ex-soldados que sofreram como reféns de vietnamitas (Rambo 2), sejam afegãos que lutaram contra os russos (Rambo 3), sejam pessoas inocentes e da Cruz Vermelha que morreram e foram torturados pelos guerrilheiros da Birmânia (Rambo 4) ou sejam famílias de mulheres que foram traficadas como mercadorias pelos cartéis mexicanos (Rambo 2019), ainda não cicatrizaram!
E ainda assim nada, absolutamente nada desta obra tem a ver com política de Donald Trump.
E tem mais uma coisa: Se você nunca assistiu a nenhum dos quatros filmes anteriores da franquia, se não conhece nada sobre o personagem John Rambo, ou se não curte filmes que contém filmes de violência extrema, nua e crua, não perca seu tempo e dinheiro indo ao cinema.
É só para quem é cinéfilo-raiz, e não para gente fresca, mimizenta e “não-me-toque’s sem noção” que ainda pagam de críticos.
Agora se você, assim como eu – que embora ache que a franquia já deveria ter parado – curte o personagem, curte o jeito que o mestre Stallone cai perfeitamente como “justiceiro” e “vingador” contra personagens cruéis e sem qualquer humanidade, vá tranquilo, gaste seus R$ 15 e perca pouco mais de uma hora e meia naquela sala escura, pois vai valer super a pena, afinal de contas, você vai sabendo que não vai assistir uma obra-prima do cinema que vai concorrer ao Oscar. Você vai apenas para assistir o bom e velho John Rambo botando pra moer, pra triturar, pra decapitar, pra estourar cabeças, explodir pessoas e deixá-las em pedacinhos. Só isso já nos basta! Mesmo que o final nem sempre seja feliz.
Aliás, parece que nunca foi para John Rambo.