A estudante de enfermagem, Milena Oliveira, de 18 anos, vem sofrendo ataques racistas e muito bullying após ganhar o concurso “Garota Praia 2018” do Distrito do Abunã, em Porto Velho. O concurso que elegeu a representante mais bonita da localidade, ocorreu no último final de semana durante o “Festival de Verão” organizado pela comunidade tendo em vista que, neste ano, não recebeu apoio do Governo do Estado e da Prefeitura para a sua realização.
As ofensas e ataques ocorreram no momento em que ela desfilava e após a premiação, nas redes sociais. Com exclusividade ao News Rondônia, a moça conta que foi convida pela comunidade para participar do desfile. Negra e acima do peso, a jovem não ficou retraída em mostrar a sua beleza ao público e aos jurados. Ela e mais quatro competidoras (representantes do Acre, Vista Alegre, Balsa e até da Bolívia) esbanjaram simpatia e sensualidade ao usar trajes normais e de biquíni.
Milena conquistou a atenção dos jurados e foi a ganhadora da noite. O resultado não agradou familiares de uma das adversárias.
A moça, ainda no palco, ouviu palavras depreciativas e ofensivas disparadas por torcidas de outras candidatas.
“Na hora a gente fica feliz e prefere não guardar esses insultos para si, mais depois a ficha cai e você percebe que vem sendo vítima desse tipo de coisa, e em pleno século 21”, disse.
O clima esquentou quando uma das pessoas foi tomar satisfação com um vereador de Porto Velho que era jurado e questionou a sua escolha. O bate boca foi parar na internet. Um perfil da Ponta do Abunã, no Facebook, chegou até menosprezar o resultado oficial. Colocou em uma das publicações, o que seria a “vontade popular” e a “escolha dos jurados”.
“Choveu de comentários depreciativos. Teve gente que acusou os jurados de terem passado a mão em mim. Disseram que eu estava acima do peso. Que não tinha potencial para ganhar. Que não tinha um perfil de garota de praia. Gente dizendo que eu não sou padrão. Que eu tinha comprado os jurados. As pessoas me julgaram muito e continuam fazendo isso. Lamentável, estou arrasada”, relatou e acrescentou “Eu sei que estou acima do meu peso, não tenho cintura fina, sou negra, fui à única negra no concurso. Isso não dá o direito de ninguém me julgar, fazer chacota. Foi devastador, chocante”.
A jovem que é maquiadora e designer profissional revela que vai levar o caso na justiça e pedir a punição dos ofensores. Um advogado já recebeu provas que serão anexadas no processo. Enquanto aguarda os tramites, Milena tem que lidar com o trauma emocional provocado por uma sociedade exigente, onde os estereótipos da beleza sobressaem o caráter. Movimentos negros e feministas, até o momento, se calaram para o caso. O consolo vem recebendo da família, amigos e alguns seguidores.
“Deve ser difícil mesmo ter uma preta e gorda ganhando algo que exige um padrão de beleza bem diferente do normal. Eu só queria respeito! E nem tudo se resume a uma cinturinha fina. Sei de onde vim e sei quem sou. O preconceito é real e não queria viver isto! Não devemos nos render a experiências ruins. Devemos continuar lutando para conquistar nosso espaço e sonhos apesar das dificuldades. E que acima de tudo, não existe padrão de corpo perfeito. Você escolhe a forma que te deixa feliz. Isso vai além de vestir 36 ou 44. Isso são apenas números”, finalizou.
Em respeito a jovem e às pessoas que sofrem com esses ataques gratuitos, não republicaremos tais ofensas e nos resguardamos de publicar os comentários de apoio.